De mans&otilde;es da Era Dourada a salas de jantar metropolitanas, Hugo Toro enche seus projetos com toques de &eacute;pocas passadas e sensibilidade moderna

O <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/criatividade-sem-limites-8-arquitetos-que-se-tornaram-designers-de-moda">arquiteto</a> e designer Hugo Toro garimpa seu passado em busca de inspira&ccedil;&atilde;o, criando espa&ccedil;os aconchegantes e intricados, sejam eles comerciais, sejam residenciais. &ldquo;Tenho mem&oacute;ria fotogr&aacute;fica, e muitas lembran&ccedil;as que alimentam o meu trabalho. Minha cabe&ccedil;a &eacute; como um moodboard&rdquo;, diz. Toro nasceu na regi&atilde;o de Lorena, na Fran&ccedil;a, de pai franc&ecirc;s e m&atilde;e mexicana, e cresceu muito pr&oacute;ximo de seu av&ocirc; paterno, que trabalhava com carv&atilde;o e em ferrovias. &ldquo;Quando ele cuidava de mim, mostrava fotos de vag&otilde;es de trens, o que certamente explica meu gosto por viagens&rdquo;, revela.&nbsp;
Os pais do jovem designer incentivaram suas inclina&ccedil;&otilde;es criativas, e sua m&atilde;e era f&atilde; de artistas como Luis Barrag&aacute;n e Frida Kahlo. &ldquo;Minha m&atilde;e sempre me disse para ser muito aberto &agrave; cultura dela. Sou franco-mexicano sem nunca ter vivido no M&eacute;xico&hellip; Foi como se eu tivesse absorvido tudo por meio dela&rdquo;, explica Toro. &ldquo;Ela deixava que eu refizesse o meu quarto todo ano e que pintasse e escrevesse nas paredes.&rdquo;

Toro estudou na escola Penninghen, em Paris, antes de fazer um mestrado em Arquitetura na Universidade de Artes Aplicadas de Viena. Tamb&eacute;m estudou em Los Angeles. Agora, &agrave; frente da pr&oacute;pria ag&ecirc;ncia hom&ocirc;nima, sediada em Paris, Toro trabalha com restaurantes, hot&eacute;is e resid&ecirc;ncias em todo o mundo, incluindo a Villa Albertine de Nova York e o hotel Orient Express de Roma.&nbsp;
O designer conversa com L&rsquo;OFFICIEL sobre esses projetos e mais, desde sua &eacute;poca de estudante at&eacute; a cria&ccedil;&atilde;o de sua pr&oacute;pria cole&ccedil;&atilde;o de m&oacute;veis.

L&rsquo;OFFICIEL Conte-nos sobre sua &eacute;poca de estudante.&nbsp;
HUGO TORO Logo que voc&ecirc; sai da escola, todos esperam que voc&ecirc; saiba o que quer do dia para a noite. Isso &eacute; um pouco perturbador. Como eu sabia que queria fazer um mestrado, passei no exame de Viena. Essa escola &eacute; conhecida por ter um instrutor estrelado em cada um de seus est&uacute;dios &ndash; em moda, eles tinham Karl Lagerfeld, assim como Hussein Chalayan; em arquitetura, Zaha Hadid e Greg Lynn. Havia 200 candidatos. Tr&ecirc;s foram selecionados, e um deles fui eu. Um professor nos pediu para estudar a Funda&ccedil;&atilde;o Herm&egrave;s em T&oacute;quio &ndash; n&oacute;s simplesmente fomos enviados &agrave; capital japonesa por uns 20 dias. Tamb&eacute;m exibimos na Bienal de Veneza e viajamos pelo mundo, entre Hong Kong, Los Angeles, Pequim e Xangai. Enquanto a Penninghen &eacute; uma escola altamente estruturada, padronizada, a de Viena estimula os alunos a adotar uma abordagem mais profunda; cada projeto tomava mais e mais tempo. Tamb&eacute;m t&iacute;nhamos uma impressora em 3D e workshops de cer&acirc;mica; aprend&iacute;amos a soldar lat&atilde;o e a cortar madeira.

SOU UMA PESSOA superativa, FICO ENTEDIADO MUITO R&Aacute;PIDO&hellip; Gosto DE CRIAR atmosferas COMO SE FOSSEM CENAS DE UMA PE&Ccedil;A DE TEATRO.

L&rsquo;O Fazer esbo&ccedil;os &eacute; uma parte importante do seu processo?&nbsp;
HT Noventa por cento dos meus projetos s&atilde;o desenhados. Eu preciso disso para me expressar. E, ao mesmo tempo, sou um geek. Adoro tecnologia. Gosto muito do trabalho de Otto Wagner tanto quanto o de Adolf Floss. Eu me atraio por Zaha Hadid do mesmo jeito que por Luis Barrag&aacute;n ou John Lautner. Desenho tudo o que passa pela minha cabe&ccedil;a, o que me ajuda a pensar. Estou sempre trabalhando em v&aacute;rios projetos ao mesmo tempo. Gosto das coisas que s&atilde;o eternas. Tamb&eacute;m tenho esse lado n&ocirc;made em termos de refer&ecirc;ncias, e a&iacute; eu misturo tudo para fazer as minhas pr&oacute;prias.
L&rsquo;O Voc&ecirc; foi escolhido para fazer a remodelagem hist&oacute;rica da Villa Albertine em Nova York, uma resid&ecirc;ncia art&iacute;stica da Payne Whitney Mansion com apoio do Minist&eacute;rio da Cultura franc&ecirc;s. Como a hist&oacute;ria do pr&eacute;dio inspirou voc&ecirc;?&nbsp;
HT Eu gosto desse emaranhado de refer&ecirc;ncias, da her&aacute;ldica ao Renascimento. O interessante desse projeto &eacute; ter que encontrar uma maneira de juntar o passado e o presente num espa&ccedil;o que foi totalmente expropriado de seus vest&iacute;gios nos anos 1950. Enquanto eu lia os poemas de Helen Hay Whitney [poetisa, escultora e filantropa que chamava aquela mans&atilde;o de lar], eu imaginava essa mulher com uma certa melancolia em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; natureza do Central Park visto de sua janela. Esse foi o ponto de partida narrativo desse projeto.

L&rsquo;O A Mobilier National [institui&ccedil;&atilde;o cultural francesa que mobilia os espa&ccedil;os oficiais da Rep&uacute;blica Francesa e abriga uma cole&ccedil;&atilde;o hist&oacute;rica de objetos de design e arte decorativa] trabalhou junto de voc&ecirc; no projeto. Como foi essa parceria?&nbsp;
HT O lounge [da Villa Albertine] &eacute; tamb&eacute;m um espa&ccedil;o de recep&ccedil;&atilde;o para jantares dos residentes ou reuni&otilde;es do presidente da Rep&uacute;blica. Eu pude selecionar toda a mob&iacute;lia que queria, exceto de tr&ecirc;s salas, que j&aacute; estavam no Pal&aacute;cio do Eliseu &ndash; parece que eu tenho o mesmo gosto da senhora Macron [sorri]. Mas pude pegar as lumin&aacute;rias do escrit&oacute;rio do [ex-presidente] Fran&ccedil;ois Mitterrand &ndash; sem saber que eram dele. Al&eacute;m dos m&oacute;veis, tamb&eacute;m projetei um tapete, recriei a lareira, integrei pain&eacute;is feitos &agrave; m&atilde;o em laca rachada e entalhei portas de madeira. O teto parecia muito medieval, ent&atilde;o n&atilde;o quis me prender a um &uacute;nico per&iacute;odo.

L&rsquo;O Recentemente, voc&ecirc; tamb&eacute;m concluiu alguns bares e restaurantes em Londres [The Midland Grand Dining Room, Gothic Bar e Booking Office 1869]. Do que gosta nesse tipo de projeto, em contraposi&ccedil;&atilde;o aos de hot&eacute;is e resid&ecirc;ncias?&nbsp;
HT Sou uma pessoa superativa, fico entediado muito r&aacute;pido. Gosto de trabalhar em projetos muito diferentes, que n&atilde;o durem muito; por isso fa&ccedil;o um monte de restaurantes. N&atilde;o tenho um estilo minimalista e gosto que haja acidentes de percurso. Gosto de criar atmosferas como se fossem cenas de uma pe&ccedil;a de teatro. Meus projetos s&atilde;o como cap&iacute;tulos de um livro: eles t&ecirc;m um pouco de mim, mas eu gosto de adaptar o estilo.
L&rsquo;O Voc&ecirc; foi escolhido para projetar o hotel Orient Express de Roma, que abre no fim de 2024. Qual &eacute; a ideia por tr&aacute;s do design?
HT A ideia de uma viagem de trem j&aacute; est&aacute; em mim, certamente gra&ccedil;as ao meu av&ocirc;. A for&ccedil;a do Expresso do Oriente &eacute; que voc&ecirc; pode liberar uma imagina&ccedil;&atilde;o louca. Todos sabemos o que o Expresso do Oriente &eacute;, sem saber o que &eacute;; essa marca pode desembarcar tanto em Constantinopla como em Paris. No hotel, cerca de 40% das coisas v&atilde;o fazer refer&ecirc;ncia aos c&oacute;digos do Expresso do Oriente, e tudo mais vai girar em torno de Roma. Ent&atilde;o, h&aacute; caracter&iacute;sticas da cidade nos acabamentos, que precisaram ser retrabalhados para evitar que se tornassem um pastiche do passado. Fazer desse hotel algo contempor&acirc;neo era o meu objetivo no projeto.

L&rsquo;O Conte-nos sobre seu projeto residencial na rua de SaintsP&egrave;res, em Paris.&nbsp;
HT Apesar de ser mais ou menos como um ap&ecirc; de solteiro, eu imaginei a entrada numa maneira meio mon&aacute;stica, com uma pia, como era na casa da minha av&oacute;. Cobri o ch&atilde;o com travertino vermelho, descobri vitrais escondidos, que restaurei, e mandei pintar toda a marcenaria de branco com uma p&aacute;tina gradual. Revesti as paredes do quarto com folhas secas de tabaco &ndash; tudo foi feito sob medida. Eu nunca apago a identidade de um lugar; eu a refa&ccedil;o.&nbsp;
L&rsquo;O Voc&ecirc; tamb&eacute;m projetou m&oacute;veis com a galeria Kolkhoze, tamb&eacute;m em Paris. Vai criar mais?&nbsp;
HT Quatro pe&ccedil;as foram apresentadas, mas fizemos 12, ent&atilde;o vamos lan&ccedil;ar o resto muito em breve, e certamente haver&aacute; uma segunda cole&ccedil;&atilde;o. Essa cole&ccedil;&atilde;o foi inspirada no M&eacute;xico, mas tamb&eacute;m na Art Nouveau, que vem do meu sogro, cuja fam&iacute;lia morou numa casa na Villa Majorelle, em Nancy.

Hugo Toro: projetos com toques de épocas passadas e modernidade

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