A arquiteta Juliana Vasconcellos carrega seu hist&oacute;rico como modelo e amante da moda para o design de seus mobili&aacute;rios reconhecidos ao redor do mundo

Transitando pela <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/arquiteto-ruy-ohtake-morre-aos-83-anos-conheca-seu-trabalho">arquitetura</a>, pelo design e pela moda, a mineira Juliana Vasconcellos iniciou sua carreira como arquiteta, mas logo migrou para o universo do <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/cultura/estilo-provencal-o-charme-campestre-dentro-de-casa">design</a> de interiores e de m&oacute;veis. Reconhecida internacionalmente por seu mobili&aacute;rio identit&aacute;rio, com tra&ccedil;os femininos e org&acirc;nicos, hoje ela &eacute; considerada um dos 101 nomes da arquitetura, design de interiores e paisagismo do ano em todo o mundo, segundo a revista americana Elle Decor.

Juliana j&aacute; foi modelo e chegou a estudar moda em Barcelona. Mesmo depois de tantos anos, ela conta que ainda sente vontade de fazer a pr&oacute;pria cole&ccedil;&atilde;o, apesar de nunca ter executado o lado criativo por meio das roupas. &ldquo;Quando eu era crian&ccedil;a, falava que ia ser artista ou pintora. Na adolesc&ecirc;ncia, tinha certeza absoluta que seria estilista. N&atilde;o sei como acabei indo para o curso de arquitetura.&rdquo;&nbsp;

Com uma rela&ccedil;&atilde;o estreita com a arte contempor&acirc;nea e a m&uacute;sica cl&aacute;ssica &ndash; Juliana toca piano h&aacute; muitos anos e cogitou tamb&eacute;m seguir a profiss&atilde;o de musicista &ndash;, ela traz inspira&ccedil;&otilde;es de v&aacute;rias artes com um toque de delicadeza para suas obras e cria&ccedil;&otilde;es. &ldquo;Amo roupas com volumetria, por exemplo, e isso tem tudo a ver com a arquitetura e com os meus m&oacute;veis. Muitas vezes opto tamb&eacute;m por esse trabalho com texturas e combina&ccedil;&otilde;es de cores&rdquo;, diz.

Juliana Vasconcellos

Dona de um closet com pe&ccedil;as &uacute;nicas e atemporais, Juliana traz a moda como ferramenta de leitura do mundo contempor&acirc;neo e acredita que, por meio dela, &eacute; poss&iacute;vel notar os primeiros reflexos da mudan&ccedil;a na sociedade. &ldquo;Todas as quest&otilde;es pol&iacute;ticas e socioculturais primeiro aparecem nas ruas e nas roupas. Eu amo essa forma de express&atilde;o e de contextualiza&ccedil;&atilde;o do que a gente vive. O mundo est&aacute; mudando e conseguimos enxergar isso diretamente na moda. Com a ajuda dela, lemos as pessoas.&rdquo; O senso est&eacute;tico da artista se estende desde as obras at&eacute; as roupas, sempre com foco nos acess&oacute;rios impactantes.

&ldquo;N&atilde;o sou adepta da &uacute;ltima moda. Eu tenho um estilo que muda muito em rela&ccedil;&atilde;o ao dia e &agrave; fase da minha vida. Nos &uacute;ltimos dois anos, at&eacute; mesmo um ano antes da pandemia, comecei a procurar por pe&ccedil;as mais f&aacute;ceis e confort&aacute;veis, acredito que pelo meu estilo de vida. N&atilde;o estava me &lsquo;montando&rsquo; mais. Sou pr&aacute;tica, mas gosto do diferente, sempre. Na pandemia, virei adepta da camiseta b&aacute;sica e cal&ccedil;a jeans, mas sou apaixonada por &oacute;culos, casacos e blazers. Ent&atilde;o posso estar com uma roupa b&aacute;sica, mas sempre visto uma jaqueta diferente ou um acess&oacute;rio que tenha informa&ccedil;&atilde;o de moda, que eu s&oacute; coloco por cima e resolve o meu look.&rdquo;&nbsp;

A decora&ccedil;&atilde;o de sua casa, em Belo Horizonte, que &eacute; branca e tende ao minimalismo, foi feita ao longo de 13 anos, com mobili&aacute;rio moderno brasileiro, entre pe&ccedil;as da pr&oacute;pria designer, poltronas de Joaquim Tenreiro e obras de Lina Bo Bardi, arquiteta respons&aacute;vel por projetos como o Museu de Arte de S&atilde;o Paulo (Masp), fundado em 1947. &ldquo;Casa de ferreiro, espeto de pau. Tudo foi feito muito devagar. N&atilde;o cheguei em um dia querendo decorar, foi gradativo. A sensa&ccedil;&atilde;o &eacute; de que n&atilde;o est&aacute; pronta, mas o que est&aacute; l&aacute; tem muita import&acirc;ncia para mim e para o meu marido, que prefere esse estilo com menos informa&ccedil;&otilde;es&rdquo;, disse a arquiteta.&nbsp;

"Posso estar com uma roupa b&aacute;sica, mas sempre visto uma jaqueta diferente ou um acess&oacute;rio que tenha informa&ccedil;&atilde;o de moda, que eu s&oacute; coloco por cima e resolve o meu look" Juliana Vasconcellos

Entre as obras, Juliana trouxe para sua casa a poltrona Galho, criada por ela mesma no ano passado e que se tornou sua principal pe&ccedil;a de trabalho hoje. O mobili&aacute;rio estava em exposi&ccedil;&atilde;o na casa de leil&otilde;es Phillips, nos Hamptons, em Nova York, at&eacute; o in&iacute;cio de setembro. Inspirada em galhos retirados diretamente do cerrado, a pe&ccedil;a foi feita de bronze fundido e passou por um processo de execu&ccedil;&atilde;o longo e detalhado. &ldquo;Foi um trabalho criativo muito livre e visceral, porque quis pegar algo literal da natureza com sensa&ccedil;&atilde;o de bruto, sem lapida&ccedil;&atilde;o e r&uacute;stico, para que a pe&ccedil;a ficasse bem org&acirc;nica.&rdquo;

Em meio &agrave;s paredes que exalam cultura, Juliana elegeu dois espa&ccedil;os preferidos dentro de casa: o escrit&oacute;rio, palco de uma mesa do arquiteto e designer Jorge Zalszupin, e o v&atilde;o da escada, que traz ritmo para a entrada de luz. &ldquo;A arte dentro de um espa&ccedil;o residencial &eacute; uma forma de contextualizar a &eacute;poca que aquela casa est&aacute; sendo vivida, inspirar questionamentos, tanto internos e pessoais quanto externos, como o contexto pol&iacute;tico, social ou da pr&oacute;pria viv&ecirc;ncia do artista. A obra de arte enriquece o espa&ccedil;o, traz di&aacute;logo, conhecimento e cultura.&rdquo;

Al&eacute;m da obra Galho, Juliana criou a ic&ocirc;nica cadeira Girafa &ndash; inspirada na feminilidade e eleg&acirc;ncia do animal &ndash;, que foi adquirida pelo acervo permanente do Museu de Artes e Design de Nova York e hoje est&aacute; em uma exposi&ccedil;&atilde;o do acervo com outras 70 obras, representando o crafted (artesanal), at&eacute; fevereiro do ano que vem. A pe&ccedil;a proporcionou a presen&ccedil;a da arquiteta em todos os continentes. &ldquo;A Girafa &eacute; vendida na R&uacute;ssia, em Hong Kong, em Nova York, em Los Angeles, na Coreia, na Nova Zel&acirc;ndia e em toda a Europa. Hoje exporto mais do que vendo no Brasil, mas isso refor&ccedil;ou &ndash; junto com o meu amadurecimento dos &uacute;ltimos anos &ndash; a ideia de trabalhar uma linguagem de raiz e de valorizar a minha cultura. E isso fez crescer a minha presen&ccedil;a internacional. Parece contradit&oacute;rio, mas foi um amadurecimento da minha imagem trazer essa ra&iacute;z cada vez mais forte.&rdquo;

No &uacute;ltimo ano, com a pandemia, a artista acabou adiando os planos de celebrar os 15 anos de carreira com uma exposi&ccedil;&atilde;o de retrospectiva de todos os projetos que produziu nesse per&iacute;odo, mas o plano se mant&eacute;m para o ano que vem. &ldquo;&Eacute; uma carreira breve. Sinto que estou come&ccedil;ando, mas quero contar a minha hist&oacute;ria e enxergar a evolu&ccedil;&atilde;o profissional ao longo do tempo.&rdquo; Durante o per&iacute;odo de isolamento, Juliana &ndash; que j&aacute; era mais tranquila, segundo a mesma &ndash; passou por uma fase de impulsos criativos mais profundos, apesar da inseguran&ccedil;a por conta do momento. &ldquo;Tive mais tempo para me conectar e buscar um equil&iacute;brio interno, e o lado criativo apareceu com mais subst&acirc;ncia. Voltamos a olhar para coisas que tinham mais valor, at&eacute; nas rela&ccedil;&otilde;es, com a diminui&ccedil;&atilde;o do contato social, e priorizamos rela&ccedil;&otilde;es mais importantes. N&atilde;o vivemos nada sup&eacute;rfluo nos &uacute;ltimos tempos&rdquo;, finalizou.

"A arte dentro de um espa&ccedil;o residencial &eacute; uma forma de contextualizar a &eacute;poca que aquela casa est&aacute; sendo vivida" Juliana Vasconcellos

A carreira e mente criativa da arquiteta Juliana Vasconcellos

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