H&aacute; mil&ecirc;nios, o fil&oacute;sofo grego Her&aacute;clito nos transmitiu um pensamento que ressoa com estranha precis&atilde;o nos dias de hoje: &ldquo;N&atilde;o se entra duas vezes no mesmo rio". &nbsp;&nbsp;

Est&aacute; aberta a temporada de listas, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/renascer-para-definitivamente-sobreviver">balan&ccedil;os e promessas</a> para o novo ano que se aproxima. Enquanto o tempo, essa entidade ingovern&aacute;vel e <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/afeto-transgressao-e-rita-lee">avassaladora</a>, deixa suas marcas e altera as coisas de lugar, o foco nas recompensas dopamin&eacute;rgicas que moldam o indiv&iacute;duo p&oacute;s-moderno deixa escapar mais do que deveria em nossa <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/greve-dos-artistas-metaverso-e-despertar">aliena&ccedil;&atilde;o cotidiana.</a>
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Foto: Pexels

H&aacute; mil&ecirc;nios, o fil&oacute;sofo grego pr&eacute;-socr&aacute;tico Her&aacute;clito nos legou um pensamento que ressoa com estranha precis&atilde;o nos dias de hoje: &ldquo;N&atilde;o se entra duas vezes no mesmo rio. Pois quando nele se entra novamente, n&atilde;o se encontram as mesmas &aacute;guas e o pr&oacute;prio ser j&aacute; se modificou.&rdquo;
Essa frase, aparentemente simples, cont&eacute;m profundas reflex&otilde;es sobre a constante evolu&ccedil;&atilde;o da vida, elemento especialmente relevante na atual "era l&iacute;quida", conceito criado pelo soci&oacute;logo Zygmunt Bauman que descreve um mundo onde as mudan&ccedil;as ocorrem com agilidade e frequ&ecirc;ncia, tornando os antigos padr&otilde;es de vida e as estruturas sociais fluidas e mut&aacute;veis.

O conceito de "liquidez" dialoga diretamente com o pensamento de Her&aacute;clito: assim como n&atilde;o se pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas &aacute;guas est&atilde;o sempre se renovando, tamb&eacute;m vivemos em uma realidade que se transforma a cada segundo, colocando a imperman&ecirc;ncia na linha de frente como uma caracter&iacute;stica inerente &agrave; exist&ecirc;ncia.
Na p&oacute;s-modernidade, esta imperman&ecirc;ncia &eacute; sentida de maneira acelerada com tecnologias emergentes, rela&ccedil;&otilde;es sociais descart&aacute;veis ou recicl&aacute;veis e um cen&aacute;rio pol&iacute;tico, ambiental e cultural que se choca e se transforma diante de nossos olhos. Tudo ao nosso redor, incluindo n&oacute;s mesmos, est&aacute; em um estado de muta&ccedil;&atilde;o e aperfei&ccedil;oamento.
Mas em meio &agrave; imperman&ecirc;ncia h&aacute; tamb&eacute;m uma continuidade. Assim como o rio de Her&aacute;clito, que mant&eacute;m o fluxo apesar das &aacute;guas nunca serem as mesmas, tamb&eacute;m existem elementos em nossas vidas e na sociedade que persistem mesmo em meio &agrave;s mudan&ccedil;as. Estes podem ser nossos valores fundamentais e universais, nossas rela&ccedil;&otilde;es humanas mais profundas ou nossa busca incessante por significado e compreens&atilde;o.
O desafio real e quase intang&iacute;vel &eacute; como navegar na &ldquo;liquidez" desses rios sem se perder ou se afogar. Como manter um senso de identidade e prop&oacute;sito quando tudo ao redor parece ruir e desmoronar? A resposta pode estar em abra&ccedil;ar a imperman&ecirc;ncia n&atilde;o como uma for&ccedil;a destrutiva, mas como uma oportunidade para o crescimento e a renova&ccedil;&atilde;o.
Outros pensadores dizem que &ldquo;sobrevive o mais adapt&aacute;vel&rdquo;. Adaptar-se nunca foi sobre aceitar o que n&atilde;o nos pertence, mas sim navegar sob as &aacute;guas com tranquilidade, sem que as mudan&ccedil;as sejam uma constante &ldquo;amea&ccedil;a&rdquo;.
Assim, Her&aacute;clito e Bauman, apesar de separados por mil&ecirc;nios, dialogam entre si e conosco, oferecendo uma lente atrav&eacute;s da qual podemos observar nossa exist&ecirc;ncia sempre cont&iacute;nua. E na aceita&ccedil;&atilde;o dessa realidade, talvez encontremos n&atilde;o apenas a sabedoria para viver, mas tamb&eacute;m a coragem para mudar e evoluir com consist&ecirc;ncia, coragem, lealdade e responsabilidade.

Não se entra duas vezes no mesmo rio

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