Em entrevista exclusiva, o stylist abordou o futuro do consumo

N&atilde;o &eacute; dif&iacute;cil reconhecer que <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/tendencias-minimalistas-do-steet-style-internacional">tend&ecirc;ncias</a> sinalizam os desejos do tempo em que vivemos. Para <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/casa-de-criadores-lanca-instituto-para-ensino-de-moda-democratico">Dudu Bertholini</a>, o conceito n&atilde;o &eacute; apenas verdadeiro, como tamb&eacute;m muito pertinente aos dias de hoje. Na semana passada, a convite do Senac Pindamonhangaba, cidade do interior paulista, o <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/quem-sao-os-estilistas-5-estrelas-que-importam-em-hollywood">stylist</a> comandou o talk Moda pra qu&ecirc;? e trouxe reflex&otilde;es sobre as transforma&ccedil;&otilde;es que est&atilde;o tornando a <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/sao-paulo-recebe-a-primeira-semana-de-moda-sustentavel-do-pais">moda</a> e o mundo cada vez mais plurais, &eacute;ticos e inclusivos.&nbsp;
Em entrevista exclusiva &agrave; L'officiel Brasil - e minutos antes de comandar a noite -, Dudu Bertholini explicou sobre os desejos de um novo mundo, redes sociais e a din&acirc;mica das tend&ecirc;ncias. &ldquo;J&aacute; n&atilde;o d&aacute; mais para definirmos a moda de hoje por silhuetas, estampas, cores e formas&rdquo;, afirmou o stylist sobre os novos caminhos do consumo de moda.

Dudu Bertholini (Foto: Reprodução/ Divulgação)

L&rsquo;OFFICIEL: Em meio &agrave; diversidade de estilos hoje, &eacute; poss&iacute;vel falar de tend&ecirc;ncias?
DUDU BERTHOLINI: Faz sentido falar em tend&ecirc;ncia no mundo t&atilde;o diverso, onde a gente incentiva que a moda seja cada vez mais livre e plural. A gente entende que as tend&ecirc;ncias v&atilde;o muito al&eacute;m da moda, ou das propostas para a gente vestir. Se a moda &eacute; esse grande sistema de renova&ccedil;&atilde;o constante e que traduz os desejos do mundo, as tend&ecirc;ncias representam esses desejos coletivos que v&atilde;o muito al&eacute;m da roupa. H&aacute; a tend&ecirc;ncia da moda, mas tem a tend&ecirc;ncia do carro, da viagem, do meme, do aplicativo, da doen&ccedil;a, do rem&eacute;dio. Ela nos ajudam a entender o pensamento vigente das pessoas e do mundo. Ent&atilde;o, quando olhamos por esse lugar antropol&oacute;gico, as tend&ecirc;ncias ainda fazem sentido. Quando pensamos em uma ditadura que diz que como voc&ecirc; deve se vestir, ou que uma cor &eacute; a cor do ano, ou que voc&ecirc; tem que ter uma determinada pe&ccedil;a de roupa para estar inserido no contexto de moda, sem d&uacute;vida, essa ideia est&aacute; super ultrapassada. Hoje, a moda est&aacute; aqui para te oferecer muitos caminhos para voc&ecirc; aprimorar o seu estilo pessoal de acordo com a sua personalidade. Entendemos que, por tr&aacute;s de uma predomin&acirc;ncia, existe um desejo maior, um movimento humano por tr&aacute;s disso. &Eacute; muito importante que a gente coloque um vi&eacute;s cr&iacute;tico e aprendamos a usar as tend&ecirc;ncias de acordo com a nossa personalidade de uma forma livre para que voc&ecirc; use a tend&ecirc;ncia e n&atilde;o ela use voc&ecirc;.

L&rsquo;OFFICIEL: Qual &eacute; a cara da moda hoje?
DUDU BERTHOLINI: Plural, diversa, m&uacute;ltipla, &eacute;tica, respons&aacute;vel. Eu acho que j&aacute; n&atilde;o d&aacute; mais para definirmos a moda de hoje por silhuetas, estampas, cores e formas. A gente continua amando o design, a possibilidade radical de express&atilde;o que a moda nos oferece, mas isso s&oacute; faz sentido se for uma ponte para uma transforma&ccedil;&atilde;o maior. Roupa bonita j&aacute; tem muito no mundo e - como estamos defendendo que a cara da moda &eacute; a cara da sua moda -, qual &eacute; a moda que fala com a tua verdade? Qual &eacute; a moda que valoriza as diferen&ccedil;as e n&atilde;o mais tenta elimin&aacute;-las? Espero que a cara da moda esteja no porqu&ecirc; de uma roupa existir, em pensar quais s&atilde;o os valores que existem por tr&aacute;s daquela roupa, quem fez aquela pe&ccedil;a, como vai ser descartada e qual o impacto que tem no mundo.

L&rsquo;OFFICIEL: O Instagram chegou ao Brasil em 2015 e, de l&aacute; para c&aacute;, muitos pontos de vista mudaram, inclusive a nossa perspectiva de moda. Sendo assim, o que a moda deixa para as redes sociais e o que as redes deixam para a moda?
DUDU BERTHOLINI: &Eacute; impressionante como isso &eacute; paradoxal. Como as redes sociais conseguiram, e ainda conseguem, mediar as nossas rela&ccedil;&otilde;es de uma forma t&atilde;o presente, parece que foi ontem. &Eacute; at&eacute; dif&iacute;cil imaginar e lembrar como era a moda e a vida antes das redes sociais. O melhor que as redes sociais trazem &eacute; a democratiza&ccedil;&atilde;o da informa&ccedil;&atilde;o e a pluraliza&ccedil;&atilde;o do ponto de partida. Se antes apenas poucos ve&iacute;culos podiam falar sobre moda e t&iacute;nhamos um filtro que vinha dos poucos canais de comunica&ccedil;&atilde;o e das poucas editoras, hoje, somos todos canais e pontos de partida. N&oacute;s vemos os desfiles ao mesmo tempo que todas as editoras de moda. Antes, esper&aacute;vamos meses para ter acesso a essa informa&ccedil;&atilde;o que j&aacute; vinha destrinchada por poucas perspectivas. Ent&atilde;o, ocorre essa democratiza&ccedil;&atilde;o maravilhosa e a troca de saberes. A moda n&atilde;o s&oacute; &eacute; difundida por v&aacute;rias pessoas, como tamb&eacute;m se constr&oacute;i a partir delas. N&atilde;o d&aacute; mais para dizer que a moda sai das passarelas, pois, hoje, no seu feed, voc&ecirc; tem contato com esse mundo todo. A moda &eacute; um espelho do mundo, uma manifesta&ccedil;&atilde;o do jeito como pensamos e as redes sociais pluralizam isso. Na era em que &ldquo;eu acho&rdquo; vale tanto quanto o &ldquo;eu sei&rdquo;, tamb&eacute;m criamos uma percep&ccedil;&atilde;o exacerbada de que a nossa opini&atilde;o importa e temos que opinar sobre tudo, o que n&atilde;o &eacute; verdade. Na era em que a cultura do hating e da opini&atilde;o se misturam de uma forma t&atilde;o louca, ela &eacute; uma ferramenta t&atilde;o problem&aacute;tica quanto poderosa. Parafraseando nosso grande Spiderman: &ldquo;grandes poderes v&ecirc;m com grandes responsabilidades&rdquo;. Temos que assumir as responsabilidades da informa&ccedil;&atilde;o que consumimos e, principalmente, da que disseminamos. As redes sociais trazem conhecimento e ensinamento. No TikTok, conhecido como a rede das dancinhas, tamb&eacute;m percebemos conte&uacute;dos mais aprofundados. Ent&atilde;o, existe esse lugar e uma tend&ecirc;ncia - eu n&atilde;o estou generalizando - de se manter esse conhecimento de uma forma mais superficial. Quanto mais r&aacute;pido o seu scroll, mais rasa a informa&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o acho que &eacute; s&oacute; isso, pois depende muito de como cada um de n&oacute;s se relaciona com as redes sociais. Acredito tamb&eacute;m que vai ser um perigo para o qual temos que estar alerta. Estamos em uma institui&ccedil;&atilde;o de ensino que aprofunda as suas pautas por um vi&eacute;s bem diferente do que voc&ecirc; aprende nas redes sociais. Em uma institui&ccedil;&atilde;o, da mesma forma que ela &eacute; uma ferramenta a favor, h&aacute; tamb&eacute;m um perigo, pois h&aacute; acesso &agrave; informa&ccedil;&atilde;o rasa. Se n&atilde;o tomar cuidado, com um Chat GPT, ningu&eacute;m escreve mais duas linhas.

L&rsquo;OFFICIEL: Considerando a sua carreira dentro da moda como stylist, figurinista e diretor criativo, como &eacute; trabalhar com moda a partir de v&aacute;rios pontos de vista no mercado?
DUDU BERTHOLINI: Essa &eacute; a minha maior motiva&ccedil;&atilde;o. Eu falo que eu sou uma polva com os meus tent&aacute;culos que n&atilde;o param de se abrir em possibilidades. Nesses diferentes campos de atua&ccedil;&atilde;o, tudo parte de um mesmo cerne criativo. Hoje, a mensagem me interessa mais do que o meio. Se a plataforma for coerente, e eu achar que a comunica&ccedil;&atilde;o pode fazer a diferen&ccedil;a e acontecer, vejo que tem mais um novo desafio. Ontem, eu tamb&eacute;m anunciei que serei jurado da primeira temporada do Drag Race Brasil, uma coisa que eu j&aacute; fiz na vida tamb&eacute;m que &eacute; ser jurado. Parece que a bancada sempre me chama, mas &eacute; um novo desafio tamb&eacute;m. Estar inserido numa cultura Drag e na cultura LGBT do nosso pa&iacute;s e ter isso muito forte, para mim, tamb&eacute;m foi um desafio super novo. N&atilde;o estou s&oacute; interessado nos campos de atua&ccedil;&atilde;o que eu j&aacute; conhe&ccedil;o, mas em todos os outros que est&atilde;o por vir. Tenho certeza que, com as mudan&ccedil;as exponenciais e t&atilde;o aceleradas pelas quais o mundo est&aacute; passando, certamente v&ecirc;m coisas novas para todos n&oacute;s nos pr&oacute;ximos anos no mundo.

L&rsquo;OFFICIEL: Para voc&ecirc;, qual &eacute; a identidade da moda brasileira?
DUDU BERTHOLINI: A pergunta de milh&otilde;es! Eu estava fazendo uma palestra com a Gl&oacute;ria Kalil na semana passada, e essa pergunta apareceu. Ela contou que o Alexandre Herchcovitch respondeu para ela que &eacute; a moda &eacute; feita no Brasil. Parece um pouco simplista, mas n&atilde;o &eacute;. Na verdade, traduz valores do nosso pa&iacute;s e tem uma conversa com a nossa cultura e responde &agrave;s urg&ecirc;ncias do nosso pa&iacute;s. Isso faz dela &uacute;nica e traz suas caracter&iacute;sticas, mas temos que tomar cuidado para que n&atilde;o nos transformemos em estere&oacute;tipos daquilo que &eacute; entendido como a nossa identidade. Existem estilistas brasileiros que trabalham com uma moda tropical e colorida como eu, e outros com uma moda urbana, dark, ou com alfaiataria. O mundo &eacute; t&atilde;o diverso e encolhido pelas n&atilde;o fronteiras digitais que, hoje em dia, &eacute; ainda mais dif&iacute;cil falar em uma &uacute;nica caracter&iacute;stica. Quando olhamos para essa perspectiva do nosso tempo, gosto de pensar que &eacute; uma moda que vai valorizar cada vez mais a proced&ecirc;ncia, a nossa ancestralidade artesanal, fazendo com que o design expanda ainda mais essas possibilidades. Que a moda d&ecirc; continuidade ao seu legado da estamparia, das cores, da forma, de um jeito nosso de lidar com o corpo, mas que isso nunca vire uma caricatura ou um estere&oacute;tipo de n&oacute;s mesmos. A moda brasileira &eacute; t&atilde;o diversa como o mundo que a gente luta para que seja hoje.&nbsp;

L&rsquo;OFFICIEL: E voc&ecirc; acredita que as novas marcas est&atilde;o trazendo essa perspectiva?&nbsp;
DUDU BERTHOLINI: Eu vejo com bons olhos. Por exemplo: a valoriza&ccedil;&atilde;o dos trabalhos artesanais e das manualidades. Vemos uma descentraliza&ccedil;&atilde;o da moda que se pautou no eixo Rio-S&atilde;o Paulo por muito tempo ou de marcas que migraram de seus estados para que pudessem ter relev&acirc;ncia. A gente v&ecirc; essa moda acontecer. A moda do Nordeste, do Sul, do Centro-Oeste, do Norte, e temos respostas maravilhosas de pessoas que conversam com a identidade dos seus estados, mas n&atilde;o se limitam e conversam com o mundo. A descentraliza&ccedil;&atilde;o &eacute; um momento, assim como para o mundo, para a moda brasileira pluralizar o ponto de partida. Hoje, temos muito mais ra&ccedil;as, corpos, g&ecirc;neros, estilos, classes sociais, fazendo e pensando moda. Espero que essa seja a identidade da moda brasileira, e que ela seja o mapa desse continente lindamente plural que &eacute; o nosso Brasil.

L&rsquo;OFFICIEL: O que uma boa cole&ccedil;&atilde;o ou marca deve ter para conquistar o mercado?
DUDU BERTHOLINI: Tem que ter um porqu&ecirc; da marca ou do neg&oacute;cio existir. Hoje, as pessoas querem se ver representadas nas marcas que compram. Romper uma l&oacute;gica perversa da moda que lucrou com o nosso sentimento de n&atilde;o pertencimento por tanto tempo. Fez criarmos padr&otilde;es dif&iacute;ceis de consumir para tentar pertencer a regras cada vez mais excludentes. Ent&atilde;o, no s&eacute;culo 21, gra&ccedil;as &agrave; reivindica&ccedil;&atilde;o das pessoas - e n&atilde;o da ind&uacute;stria -, queremos nos ver representades nas marcas que compramos e nos produtos que escolhemos. O consumidor est&aacute; muito mais esperto, pois quer saber de quem est&aacute; comprando, onde est&aacute; investindo o dinheiro. &Eacute; preciso haver verdade, sinergia com o seu p&uacute;blico-alvo e pertin&ecirc;ncia. As antigas ferramentas de marketing e de branding tamb&eacute;m est&atilde;o em crise. Foi-se o tempo em que ter uma top model e um grande fot&oacute;grafo para fazer uma campanha era a garantia de engajamento no posicionamento da marca. Com a populariza&ccedil;&atilde;o dos canais de comunica&ccedil;&atilde;o e dos pontos de partida, as estrat&eacute;gias s&atilde;o outras. A comunica&ccedil;&atilde;o e o posicionamento s&atilde;o t&atilde;o importantes quanto o produto. Vou ser bem categ&oacute;rico: quanto menos marcas existirem e mais preciosas elas puderem ser, mais bem sucedidas elas ser&atilde;o. Acredito que o mundo vai ser assim daqui para frente.

Dudu Bertholini fala sobre moda, tendências e redes sociais

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