Hel&ocirc; Rocha est&aacute; de volta? De certa forma, sim, e em entrevista exclusiva a L&rsquo;Officiel a nova dupla fala um pouco dessa nova fase

<a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/spfw-n56-helo-rocha-em-uma-ode-a-um-sertao-mitico">Hel&ocirc; Rocha</a> est&aacute; de volta? De certa forma, sim, mesmo que nunca tenha desaparecido do radar. Pelo contr&aacute;rio, passou os &uacute;ltimos anos em voos baixos, ainda que pouco silenciosos. Com quase vinte anos de mercado &mdash; primeiro com a T&ecirc;ca, depois com a marca que leva seu nome &mdash;, Hel&ocirc; saiu das passarelas em 2017, quando foi absorvida pelo grupo Restoque para tocar o Ateli&ecirc; Le Lis. &Aacute;guas passadas na pr&eacute;-pandemia, a criadora tem desde ent&atilde;o se dedicado 100% ao seu pr&oacute;prio ateli&ecirc;; com um olho em um efervescente mercado de noivas pouco cl&aacute;ssicas, o outro idealizando roupas sob demanda para amigos famosos, figurinos especiais e clientes estrondosas. A &uacute;ltima, mais marcante, foi Janja Lula da Silva. A primeira-dama apareceu com um terno com tingimento natural e bordados em palha feita no Serid&oacute;, Rio Grande do Norte, terra da estilista. Um look extremamente brasileiro mas tamb&eacute;m extremamente Hel&ocirc; Rocha, que veio construindo uma imagem de moda interessante, nordestina e cada vez mais focada nas manualidades. O &aacute;pice aconteceu em novembro, no &uacute;ltimo <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/spfw-n56-veja-alguns-destaques-do-evento">SPFW</a>, quando a marca quebrou a discri&ccedil;&atilde;o do ateli&ecirc; e voltou a se apresentar na passarela. Batizado de O sert&atilde;o vai virar mar, o desfile-show potencializou toda a expertise coletiva que a estilista potiguar representa. Inclusive com a partner de cria&ccedil;&atilde;o, bra&ccedil;o direito de anos e agora s&oacute;cia, Camila Pedroza. A dupla comandou uma apresenta&ccedil;&atilde;o em n&iacute;vel que h&aacute; muito tempo n&atilde;o se via, altamente teatral e extremamente ligada em trabalhos manuais e experimenta&ccedil;&otilde;es e possibilidades de materiais. Um grande retorno, sem d&uacute;vida. No meio do Carnaval, entre um camarote e outro, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/l-officiel-110">L&rsquo;OFFICIEL</a> conversou com a dupla para decifrar um pouco dessa nova fase.

L&rsquo;OFFICIEL Vamos come&ccedil;ar pelo b&aacute;sico. Em que momento aconteceu esse match, essa sociedade? Porque voc&ecirc;s trabalham juntas j&aacute; h&aacute; muito tempo, n&atilde;o?&nbsp;
HEL&Ocirc; ROCHA &Eacute; curioso, pois somos as duas de Natal, temos amigos em comum, sab&iacute;amos uma da outra, mas n&atilde;o nos conhec&iacute;amos pessoalmente. Cami foi morar fora do Brasil muito cedo e acabamos nos encontrando apenas em S&atilde;o Paulo. Todo mundo sempre falava que seria um match instant&acirc;neo. Eu tenho a marca desde 2005 &mdash; antes da Hel&ocirc; Rocha, era a T&ecirc;ca. Cami come&ccedil;ou a trabalhar comigo em 2012 e desde ent&atilde;o viramos uma dupla, logo no primeiro momento. CAMILA PEDROZA Foi minha primeira experi&ecirc;ncia de trabalho em S&atilde;o Paulo. Estava no segundo ano de faculdade, nos encontramos quando a T&ecirc;ca voltou a loja para a Alameda Franca. Comecei a estagiar e nunca mais nos largamos.

L&rsquo;O Essa sociedade foi meio natural que acontecesse, ent&atilde;o.&nbsp;
CP Foi muito org&acirc;nica. Trabalhamos esse tempo todo juntas, da&iacute; teve a fase Restoque [hoje Veste, grupo dono da Le Lis], depois os anos de pandemia. Quando retornamos, foi j&aacute; com ateli&ecirc; na Consola&ccedil;&atilde;o e esse boom de noivas e de festas. Ent&atilde;o conversamos e resolvemos, vamos arrasar. HR E temos coisas muito similares no jeito de trabalhar. No olhar para texturas, para artesanias, &eacute; algo que nos une. Come&ccedil;amos a cria&ccedil;&atilde;o pela textura, antes de qualquer coisa. Pensamos na modelagem, mas &eacute; essa mistura de texturas, de bordados que nos guia. &Eacute; tudo muito manual. Por isso &eacute; algo que n&atilde;o conseguimos levar para a produ&ccedil;&atilde;o em escala. Ent&atilde;o fazemos coisas artesanais e &uacute;nicas. E isso vem da gente, o repert&oacute;rio nos une &mdash; por sermos da mesma cidade, por termos as mesmas refer&ecirc;ncias de vida. Chegamos nesse lugar que &eacute; de fazer o que sabemos mais, dessas pe&ccedil;as &uacute;nicas; seja para noivas, seja para figurinos.

L&rsquo;O E essa vontade de voltar a fazer desfile, qual foi a fa&iacute;sca? Voc&ecirc;s pegaram pesado nessa apresenta&ccedil;&atilde;o!&nbsp;
HR &Eacute;&hellip; para voltar, tinha que ser em grande estilo! Como v&iacute;nhamos fazendo esse trabalho de ateli&ecirc; h&aacute; um tempo, quer&iacute;amos dar uma refrescada no nosso acervo. O que fazemos &eacute; realmente slow. &Eacute; algo que n&atilde;o &eacute; descart&aacute;vel. Sempre falo que &eacute; a nossa maneira de ser sustent&aacute;vel, pois dispensamos a coisa c&iacute;clica da moda, o movimento de descartar para criar o novo. E sent&iacute;amos essa necessidade&hellip; por mais que, no ateli&ecirc;, estamos sempre produzindo, havia uma falta por fazer coisas autorais, que fossem totalmente nossas. Porque quando voc&ecirc; faz algo para outra pessoa, tem a m&atilde;o dela junto &mdash; ela vai dizendo o que gosta, o que quer ou n&atilde;o quer. E a&iacute; chega uma hora que precisamos, como artistas, criar para poder colocar filhos novos no mundo. Inclusive para as clientes enxergarem novas possibilidades de repert&oacute;rio. Tudo o que mostramos no desfile fica de sample, de pe&ccedil;as piloto, para exibir esse repert&oacute;rio. O desfile veio a partir desse desejo, de experimentar vontades de muito tempo, de misturar outras coisas, de usar l&aacute;tex. Vontade de colocar coisas para fora.

L&rsquo;O Acham que, com todo esse tempo entre desfiles, mudaram muito? Senti que estavam bem mais livres nessa passarela. Voc&ecirc;s amadureceram ou foi o mercado?&nbsp;
CP As duas coisas. Acho que obviamente tem essa vontade das duas, em fases muito individuais, mas com vontades novas. E tem isso, a Hel&ocirc; Rocha, na verdade, sempre existiu. HR As pessoas falam como se tiv&eacute;ssemos parado a marca e voltado, mas essa pausa nunca aconteceu. Nesses &uacute;ltimos anos, trabalhamos bastante, mas tudo que fizemos era para algu&eacute;m. Ent&atilde;o essa volta para desfilar no SPFW &eacute; tamb&eacute;m para que fiz&eacute;ssemos uma cole&ccedil;&atilde;o inteira, colocar energia para criar uma hist&oacute;ria que tem in&iacute;cio, meio e fim. E acho que o mercado pedia, tamb&eacute;m. Sent&iacute;amos essa necessidade de produzir novidades para mostrar para as clientes. CP Sim, super. Esse movimento de se renovar. E teve o lance de acontecer no Teatro Oficina, que foi realmente importante. Foi mesmo um momento de celebra&ccedil;&atilde;o da marca, de reconhecer todo mundo que sempre trabalhou conosco. As meninas de Timba&uacute;ba, no sert&atilde;o do Rio Grande do Norte, com quem sempre trabalhamos, tamb&eacute;m participam integralmente desse desfile. Fizemos novos experimentos, novas texturas, foi um compilado de muitas coisas que gostar&iacute;amos de fazer. HR Ach&aacute;vamos que far&iacute;amos 10, 12 looks. Da&iacute; passou para 20, acabou que fizemos 32. E ainda tinha roupa! No final das contas, deixamos coisas para fora.

L&rsquo;O E essa cliente do ateli&ecirc;, que imagino que muitas vezes nem seja t&atilde;o inserida na moda, consegue traduzir a loucura do desfile para entender o que quer?&nbsp;
HR Eu acho que elas entendem. Temos clientes bem variadas, de fato. Tem a noiva que tem a ideia fixa naquele vestido que j&aacute; est&aacute; se desfazendo no acervo de refer&ecirc;ncias, mesmo depois do desfile. E tem a que deseja o diferente. Porque a nossa cliente n&atilde;o &eacute; a noiva tradicional, n&atilde;o &eacute; a cl&aacute;ssica que quer aquele vestido de bolo de noiva. Ela quer um toque de ousadia &mdash; isso fora as artistas e os figurinos que desenvolvemos. Essas noivas conseguem assumir esse desejo pelo diferente. E h&aacute; aquela que v&ecirc; uma pe&ccedil;a de desfile superespecial, mas que tem um bordado espec&iacute;fico que ser&aacute; aplicado no vestido que ela idealiza. No final das contas, fazemos um Frankenstein no ateli&ecirc;, tirando um peda&ccedil;o de cada pe&ccedil;a, um pouquinho de cada lado. &Eacute; s&oacute; o ponto de partida.&nbsp;

&ldquo;ME POSICIONAR &Eacute; ALGO inquestion&aacute;vel, A QUEST&Atilde;O DO feminismo, DA MINHA sensualidade. TUDO ISSO faz parte DO QUE sou, N&Atilde;O TEM COMO DEIXAR &Agrave; PARTE. E O QUE FAZEMOS &Eacute; MODA, moda &eacute; arte, ENT&Atilde;O DENTRO DESSE universo de cria&ccedil;&atilde;o&hellip; N&Atilde;O H&Aacute; COMO FICAR DE CANTO.&rdquo;&nbsp;
Hel&ocirc; Rocha&nbsp;

L&rsquo;O Voc&ecirc;s sentiram uma abertura maior, em compara&ccedil;&atilde;o com o &uacute;ltimo desfile? Pois estamos em um momento de celebra&ccedil;&atilde;o de moda nordestina e moda artesanal, dois assuntos que a Hel&ocirc; Rocha exercita desde sempre.&nbsp;
HR Podemos dizer que sim, mas como &eacute; um movimento que fazemos parte de forma muito natural&hellip; acaba sendo uma afirma&ccedil;&atilde;o de que estamos no caminho certo, de que sabemos o que estamos fazendo. CP O bordado &eacute; uma coisa muito inerente para a marca. At&eacute; pelo fato de ambas sermos de Natal, na nossa fam&iacute;lia j&aacute; t&iacute;nhamos esse contato &mdash; a minha av&oacute;, a da Hel&ocirc;. Essa coisa de fazer com as m&atilde;os &eacute; algo cultural nosso, &eacute; de verdade. Ent&atilde;o &eacute; natural que tiremos essa artesania do lugar-comum, dando protagonismo a ela at&eacute; durante o processo com as meninas que produzem. As clientes esperam coisas novas. Ficam muito encantadas com as possibilidades, com os resultados. &Eacute; um produto muito especial, ent&atilde;o acabamos preenchendo uma fatia de mercado que n&atilde;o existe &mdash; dessa noiva mais descontra&iacute;da, mais fresh, que n&atilde;o busca o tradicional. Para n&oacute;s, acaba sendo um processo bem mais gostoso, desde o croqui da apresenta&ccedil;&atilde;o. HR &Eacute; sempre muito surpreendente. N&oacute;s que estamos no ateli&ecirc; todos os dias, j&aacute; nos acostumamos com aquelas artesanias todas. E da&iacute; gostamos de complicar para ir al&eacute;m. Toda roupa que fazemos, o que puder complicar, fazemos o mais complicado. E &eacute; o oposto do que todo o mercado enxerga n&eacute;, ainda naquele fast-fashion que se v&ecirc;, da produ&ccedil;&atilde;o em escala. Fazemos o oposto, vamos misturando, complicando. E a cliente fica realmente surpresa, de um jeito bom.

L&rsquo;O Mas a partir do momento que uma parte do mercado, entre v&aacute;rias aspas, est&aacute; todo trabalhando com artesanias, com bordados, com alguma comunidade de algum lugar, coisa que voc&ecirc;s sempre fizeram&hellip; como se diferenciar nesse momento?&nbsp;
HR Diria que &eacute; esse desejo mesmo de experimentar, fazer novas formas, novas texturas. Talvez esse seja o nosso diferencial. Estamos sempre tentando inovar dentro do que j&aacute; fazemos, ent&atilde;o acho que o segredo &eacute; n&atilde;o deixar morrer essa vontade. Se podemos explicar o nosso diferencial de alguma maneira, &eacute; essa paix&atilde;o pelo fazer manual &mdash; e diferente. Vamos experimentar o fio tal com a maquete tal e ver no que d&aacute;. Esses dias est&aacute;vamos lembrando de uma experimenta&ccedil;&atilde;o que fizemos, um bordado que acabou nem indo para a frente, com chips e pe&ccedil;as eletr&ocirc;nicas. Agora vimos a Schiaparelli lotada de coisas tecnol&oacute;gicas [no desfile de alta-costura ver&atilde;o 2024, desenhado por Daniel Roseberry]. E n&oacute;s, em 2017, est&aacute;vamos testando essas coisas. Mas moramos no Brasil, n&eacute;? Ent&atilde;o temos que tirar leite de pedra. Mas lembro da gente na Santa Ifig&ecirc;nia, comprando parafern&aacute;lias, juntando um monte de coisa. Est&aacute;vamos na Restoque, ainda. Temos essas maquetes, uma ideia que ningu&eacute;m comprou muito &mdash; chegamos a oferecer para algumas pessoas, mas acabou que n&atilde;o aconteceu.

L&rsquo;O Voc&ecirc;s t&ecirc;m uma coisa muito pr&oacute;pria, desde sempre, de dar nome a todo mundo que ajuda a produzir uma cole&ccedil;&atilde;o &mdash; especialmente em desfiles e nesse &uacute;ltimo, no Oficina, foi igual. Em que momento percebeu-se que era assim que devia ser?&nbsp;
HR Acho que nunca foi uma quest&atilde;o, de verdade.&nbsp;
CP A nossa equipe, o nosso processo, tudo sempre foi muito colaborativo.&nbsp;
HR Se for falar sobre diferencial, &eacute; esse tamb&eacute;m: protagonizar essas pessoas que fazem &eacute; algo que tentamos desde sempre garantir que seja assim. Porque muitas marcas se utilizam dessa arte e dessas artes&atilde;s, mas escondem. N&atilde;o querem que ningu&eacute;m saiba quem faz porque trata como segredo de fornecedor, porque o concorrente vai atr&aacute;s. Isso &eacute; algo que n&atilde;o temos medo, pelo contr&aacute;rio. Queremos mais &eacute; que todas elas, como as meninas de Timba&uacute;ba, trabalhem muito para um monte de gente, que elas fa&ccedil;am mil coisas. Ficaremos felizes com isso. &Eacute; porque tamb&eacute;m, no nosso caso, n&oacute;s garantimos em testar coisas novas e diferentes com outras pessoas. Queremos dar for&ccedil;a para todos os envolvidos, &eacute; tamb&eacute;m para isso que fazemos esse trabalho. O que pudermos fazer para contribuir, no sentido de colocar essas pessoas que produzem no mapa, n&oacute;s fazemos. Porque ningu&eacute;m cria nada sozinho. Atr&aacute;s de uma roupa dessas, tem milh&otilde;es de etapas, muita gente envolvida. E todo mundo tem voz. Encaramos como uma cria&ccedil;&atilde;o realmente coletiva. &Eacute; de todo mundo. Cada um tem algo para contribuir. As meninas de Timba&uacute;ba, elas criam junto. N&oacute;s meio que damos um norte, o que estamos pensando em fazer. Mas quando v&ecirc;, uma faz um bordado tal, outra faz um risco, e o caminho muda. &Eacute; uma jun&ccedil;&atilde;o de cabe&ccedil;as criativas.

L&rsquo;O O trabalho artesanal tem isso, essa cocria&ccedil;&atilde;o inevit&aacute;vel.&nbsp;
HR Sim. E por isso mesmo o jeito que se imagina no come&ccedil;o nunca vai ser exatamente o trabalho final &mdash; &agrave;s vezes fica muito melhor. Essa mudan&ccedil;a de rota acontece sempre. Uma coisa &eacute; voc&ecirc; imaginar algo que est&aacute; testando, outra &eacute; a realidade quando se coloca a m&atilde;o na massa. Isso acontece muito com as clientes, tamb&eacute;m. N&oacute;s vendemos o produto no croqui, vende-se uma ideia. E para n&oacute;s &eacute; muito natural enxergar a roupa pronta s&oacute; com uma descri&ccedil;&atilde;o. Mas a cliente, muitas vezes, n&atilde;o consegue abstrair essa idealiza&ccedil;&atilde;o t&atilde;o facilmente. Ent&atilde;o h&aacute; esse croqui que tem que ser quase uma foto do que estamos propondo. E o que acontece, &agrave;s vezes, &eacute; que elas se apegam 100% nesse desenho. E n&oacute;s temos essa regra, n&atilde;o d&aacute; para se apegar, pois a cria&ccedil;&atilde;o &eacute; org&acirc;nica. Claro que muitas vezes trabalhamos com texturas que j&aacute; estamos acostumadas, j&aacute; sabemos o resultado; e tamb&eacute;m &eacute; um esfor&ccedil;o de superar expectativas. Afinal, muitas vezes, &eacute; o vestido mais importante da vida daquela mulher, do casamento ou de alguma ocasi&atilde;o muito especial. Ent&atilde;o o m&iacute;nimo que temos que fazer &eacute; superar. Mas mesmo assim, o trabalho manual pode levar a cria&ccedil;&atilde;o para um resultado que n&atilde;o est&aacute; naquele croqui, ou mesmo a modelagem, &eacute; uma caixinha de surpresa para cada pe&ccedil;a. Esses experimentos v&atilde;o existir, &eacute; inevit&aacute;vel.&nbsp;

L&rsquo;O Acontece muito de chegar no final do processo e a cliente falar que n&atilde;o esperava nada daquilo?&nbsp;
HR Muito raro. Mas &eacute; isso, no final vamos deix&aacute;-la satisfeita. Nem que precisemos fazer um vestido da noite para o dia. Ele tem que se adequar &agrave;s vontades dela, n&atilde;o s&oacute; &agrave;s nossas.&nbsp;
CP Mesmo sobre as expectativas&hellip; Recentemente fizemos um look para uma influencer no camarote do Carnaval. Apresentamos o croqui, que tinha muito prateado. Foram se passando as semanas, bordando, usando renda francesa, franja, cristal, material de pesca; tem tudo, assim. &Agrave;s vezes, a princ&iacute;pio, &eacute; mesmo dif&iacute;cil de entender. Entregamos e depois ela mandou um &aacute;udio encantad&iacute;ssima, dizendo que o camarote todo estava s&oacute; de prata ou dourado e ela estava com essa cor que era meio hologr&aacute;fica, com esses bordados, uma joia. Ent&atilde;o &eacute; isso, o croqui &eacute; um ponto de partida e na maioria das vezes a hist&oacute;ria se transforma em algo muito mais interessante.

L&rsquo;O O mercado da Hel&ocirc; Rocha, hoje, &eacute; maioritariamente noivas?&nbsp;
HR Sim, a maior parte &eacute; de noivas. H&aacute; essa fase de Carnaval, com muito figurino. Mas agora, come&ccedil;ando o ano p&oacute;s-festas, o foco &eacute; totalmente casamento nesses pr&oacute;ximos meses.
L&rsquo;O Conseguem delinear um perfil dessa mulher que chega querendo vestir Hel&ocirc; Rocha?
HR Diria que a caracter&iacute;stica principal &eacute; uma certa ousadia. Mesmo a noiva, ela &eacute; mais ousada, n&atilde;o quer o cl&aacute;ssico. Tem a vontade do artesanal, da transpar&ecirc;ncia. Quer o brasileiro, enxerga esse valor. E h&aacute; uma sensualidade tamb&eacute;m, &eacute; uma noiva um pouco diferente das tradicionais. Esse &eacute; realmente o perfil das que visitam o ateli&ecirc;. E hoje j&aacute; conseguimos perceber, na primeira conversa, quando ela vai fechar a cria&ccedil;&atilde;o conosco ou n&atilde;o. S&atilde;o poucas as que chegam j&aacute; fixas numa ideia tradicional, do vestido fechado, sem decote, com um tecido mais pesado, que n&atilde;o tem a ver com o nosso trabalho. E tudo bem, n&eacute;? &Eacute; o vestido dela, precisa ser feliz.&nbsp;

L&rsquo;O Quero falar um pouco sobre pol&iacute;tica. Hel&ocirc;, voc&ecirc; &eacute; uma figura p&uacute;blica que sempre se posicionou politicamente, mesmo que de forma um pouco sutil. Mas sempre estava l&aacute; com posi&ccedil;&otilde;es feministas, de esquerda, progressista. Como encara esse interc&acirc;mbio entre pol&iacute;tica na sua vida pessoal e no seu trabalho?&nbsp;
HR Entendo que somos todos corpos pol&iacute;ticos. Ent&atilde;o &eacute; muito natural, para mim, esse posicionamento. Ainda mais no mundo em que vivemos, seria contra os meus princ&iacute;pios n&atilde;o falar nada. Me posicionar &eacute; algo inquestion&aacute;vel, a quest&atilde;o do feminismo, da minha sexualidade. Tudo isso faz parte do que sou, n&atilde;o tem como deixar &agrave; parte. E o que fazemos &eacute; moda, moda &eacute; arte, ent&atilde;o dentro desse universo de cria&ccedil;&atilde;o&hellip; n&atilde;o h&aacute; como ficar de canto. Talvez isso me prejudique de alguma forma? Financeiramente, talvez, de alguma cliente que n&atilde;o chegue at&eacute; mim por conta disso? Talvez at&eacute; possa acontecer, mas n&atilde;o consigo ficar em cima do muro.
L&rsquo;O Acham que a moda da Hel&ocirc; Rocha tem uma pegada pol&iacute;tica clara?&nbsp;
HR Se voc&ecirc; pensar no produto, criamos para todo mundo. Mas se a gente se colocar no mundo e se posicionar politicamente, talvez. Talvez seja uma transgress&atilde;o em algum momento, a forma que apresentamos a sensualidade. Talvez no empoderamento feminino. Acho que isso acontece, sim, mas de maneira muito natural. Ent&atilde;o tomara que seja uma moda pol&iacute;tica.

L&rsquo;O Quando vestiram a primeira-dama Janja Lula na cerim&ocirc;nia de posse, houve alguma rea&ccedil;&atilde;o externa extrema?&nbsp;
HR N&atilde;o houve tanta, foi at&eacute; surpreendente. Claro que h&aacute; um certo receio, nesse cen&aacute;rio atual &mdash; conversamos sobre isso. Pois j&aacute; t&iacute;nhamos feito, antes, o vestido de noiva da Janja. Aquilo foi um pr&eacute;. Mas foi algo pontual: era um casamento fechado, a divulga&ccedil;&atilde;o foi interna deles, tudo muito controlado. E j&aacute; foi maravilhosa a rea&ccedil;&atilde;o. Na posse, era outra hist&oacute;ria: n&atilde;o t&iacute;nhamos como controlar essa imagem. &Eacute; uma coisa gigantesca, filmada pelo mundo inteiro, milh&otilde;es de pessoas. De modo geral, o feedback foi infinitamente mais positivo do que negativo. Sempre se recebe uma mensagem ou outra de algu&eacute;m, mas, se houve uma rea&ccedil;&atilde;o muito ruim, n&atilde;o chegou at&eacute; n&oacute;s. Claro que, obviamente, em algum lugar, pode ter alguma cliente que gostaria de fazer roupa com a Hel&ocirc; Rocha e desistiu por conta disso. Mas, quase sempre, acho que estamos numa bolha feliz de gente que sabe separar posi&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas do trabalho. Pelo menos quem chega at&eacute; n&oacute;s. &Eacute; &oacute;bvio que n&atilde;o vestimos s&oacute; pessoas de esquerda. Temos clientes que pensam diferente e ainda assim conseguem se identificar com o nosso trabalho. N&atilde;o t&ecirc;m a mesma vis&atilde;o pol&iacute;tica, mas compartilham o gosto pela artesania, pelo bordado.

L&rsquo;O E para 2024, quais os planos? Pretendem seguir desfilando?&nbsp;
HR &Eacute; um ano focado em trabalho, muito trabalho. Ainda n&atilde;o decidimos sobre desfiles. Faremos uma campanha agora, desdobrando a apresenta&ccedil;&atilde;o do Oficina, que pretendemos produzir no Rio Grande do Norte. Outro desfile talvez aconte&ccedil;a, sim. Mas n&atilde;o enxergamos necessariamente como uma obriga&ccedil;&atilde;o c&iacute;clica. O que fazemos &eacute; muito slow, tem que fazer sentido. Vamos sentir. Talvez, se fizermos, seja algo para o segundo semestre em MO algum formato diferente. J&aacute; temos algumas vontades latentes.

MODELOS: Mariana Hasushi e Duina (ATTO).
 BELEZA: Bruno Cardoso.
 ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Nicole Riotto.
 PRODU&Ccedil;&Atilde;O EXECUTIVA: Anna Guirro.

Helô Rocha está de volta? Saiba em entrevista exclusiva a L’Officiel

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