Com um mantra simples, porém poderoso, o diretor criativo da Tod’s, Walter Chiapponi, busca fazer uma moda mais inspiradora

Quando Walter Chiapponi entra em um lugar, cria um redemoinho. Elegante e &aacute;gil, ele se move no espa&ccedil;o graciosamente, como se n&atilde;o tocasse o ch&atilde;o com os p&eacute;s. Nascido em Mil&atilde;o, o designer foi nomeado diretor criativo da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/tods-desfile-primavera-verao-2020-mfw">Tod&rsquo;s</a> em outubro de 2019 e <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/beleza/as-maiores-tendencias-beleza-mil%C3%A3o-fashion-week">estreou nas passarelas de sua cidade natal</a> em fevereiro do ano seguinte. Foi a primeira vez que seu nome ganhou for&ccedil;a internacional &ndash; embora ele j&aacute; estivesse navegando, por algum tempo, pelas &aacute;guas da moda com alguns de seus capit&atilde;es mais renomados. Estudou com Alessandro Dell&rsquo;Acqua, seu professor no European Institute of Design, e depois trabalhou para o designer em sua marca hom&ocirc;nima at&eacute; o fim dos anos 1990. Seu passo seguinte foi entrar na Blumarine. Ent&atilde;o, tornou-se assistente de Riccardo Tisci na Givenchy. Chiapponi trabalhou, tamb&eacute;m, na Valentino com Alessandra Facchinetti, e para Gucci, durante a era Frida Giannini, tendo Alessandro Michele como colega. Sua jornada continuou na Miu Miu e, em 2016, foi a vez da Bottega Veneta, ao lado de Tomas Maier e, depois, com o novo diretor criativo, Daniel Lee. Acostumado a trabalhar na sombra, <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/no-tod-a-estreia-vencedora-de-walter-chiapponi">Chiapponi, agora sob os holofotes</a>, ainda tem uma ponta de timidez, mas &eacute; s&oacute; falar em estilismo que seus olhos brilham.

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L&rsquo;OFFICIEL Voc&ecirc; foi chamado para dar um novo rumo &agrave; Tod&rsquo;s. Como descreve o DNA da marca hoje?

WALTER CHIAPPONI A marca foi concebida para criar pe&ccedil;as para o dia a dia, com foco nos momentos de lazer, o que faz de mim uma pessoa sortuda, porque visto as pessoas para explorarem seus hobbies e se divertirem. Meu trabalho &eacute; aprimorar essa ideia e n&atilde;o causar uma revolu&ccedil;&atilde;o.

L&rsquo;O Qual &eacute; o diferencial da Tod&rsquo;s?

WC Existe um tipo de conforto no que oferecemos, o que significa roupas descomplicadas com a combina&ccedil;&atilde;o de eleg&acirc;ncia e modernidade, sem for&ccedil;ar nada nem alimentar a obsess&atilde;o em ser tend&ecirc;ncia. Fazemos pe&ccedil;as atemporais para vestir e n&atilde;o fantasiar as pessoas. Queremos que quem nos veste se sinta &agrave; vontade, talvez com novos pontos de vista relativos &agrave;s formas, aos materiais e &agrave;s cores, mas sempre com atitude. Buscamos aumentar nosso p&uacute;blico, conversando tamb&eacute;m com outros tipos de pessoas. Tod&rsquo;s talvez seja vista at&eacute; agora como uma marca de proposta mais madura, mas estou tentando transmitir os c&oacute;digos de eleg&acirc;ncia, cultura e classicismo para os jovens tamb&eacute;m. Por exemplo, escolhemos um ator da s&eacute;rie Unorthodox, da Netflix, Aaron Altaras, para ser o rosto de nossa nova campanha.

ESTOU TENTANDO transmitir OS CÓDIGOS DE elegância, CULTURA E CLASSICISMO PARA os jovens TAMBÉM.

L&rsquo;O O que voc&ecirc; aprendeu com seus v&aacute;rios mentores e colegas de profiss&atilde;o?

WC Tive a sorte de trabalhar com monstros sagrados da moda. Cada um deles me passou algo. Admiro a capacidade de Miuccia Prada de se desafiar constantemente, sua rebeli&atilde;o contra estere&oacute;tipos de beleza e seu desejo de tornar glamouroso o que n&atilde;o despertaria, normalmente, o interesse de ningu&eacute;m. Riccardo Tisci me guiou pelos caminhos de um imagin&aacute;rio mais popular repaginado, no entanto, por uma maison como Givenchy, cuja hist&oacute;ria &eacute; bem diferente. Comecei minha carreira com Alessandro Dell&rsquo;Acqua, que, na &eacute;poca, era um prod&iacute;gio da moda e colocava &agrave; prova alguns dos grandes nomes do mundo fashion. Foi uma experi&ecirc;ncia muito formadora.

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L&rsquo;O Que li&ccedil;&atilde;o voc&ecirc; tirou de 2020?

WC Foi um ano no qual tive de ser um verdadeiro l&iacute;der &ndash; e percebi que podia ser efetivamente. Durante as v&aacute;rias videoconfer&ecirc;ncias com meus colaboradores, foi importante para mim ver seus familiares tamb&eacute;m, para compreender melhor a vida di&aacute;ria de cada um. Acabei conhecendo as casas, seus maridos, suas esposas e seus filhos. Essa intera&ccedil;&atilde;o entre as esferas da vida privada com o trabalho me deu muitos insights.

L&rsquo;O O que podemos esperar em termos de tend&ecirc;ncias?

WC Estou cansado de ouvir falar em roupas confort&aacute;veis, pijamas e sobre pe&ccedil;as para usar em casa. Toda essa nonchalance pode facilmente se tornar um desleixo e em longo prazo afetar negativamente o psicol&oacute;gico das pessoas. J&aacute; est&atilde;o no mercado muitos joggings e sneakers. Quero ver pessoas que cuidam da apar&ecirc;ncia, que querem ser elegantes. A moda n&atilde;o &eacute; somente uma t-shirt com um grande logo.

GOSTO DE “MANIPULAR” UMA PEÇA desenvolvida PELOS MEUS colaboradores, NÃO PARA destruíla, MAS PARA aproximá-la DA MINHA VISÃO.

L&rsquo;O Agora h&aacute; muita discuss&atilde;o sobre o fato de que a moda n&atilde;o est&aacute; mais na moda.

WC Acredito que eu mesmo falei algo desse tipo no passado, mas me arrependo porque a ideia foi mal interpretada. Vejo menos criatividade hoje do que quando iniciei minha carreira, em 1996. Naquela &eacute;poca, o minimalismo j&aacute; tinha ficado para tr&aacute;s e a onda de designers brit&acirc;nicos era crescente. Em todos os cantos, havia algo de inacredit&aacute;vel. Era t&atilde;o mais divertido. Agora, v&aacute;rios designers pensam mais como empreendedores e foram muito longe em fazer uma moda abord&aacute;vel. Algumas marcas ficaram bem populares levando para os desfiles o que j&aacute; estava sendo visto nas ruas, enquanto a ideia de propor ao p&uacute;blico um sonho ficou perdida. A moda n&atilde;o est&aacute; morta, mas deve ser mais inspiradora novamente

L&rsquo;O Qual &eacute; seu m&eacute;todo de trabalho?

WC Sou muito preciso e extremamente disciplinado, mas, quando minha criatividade come&ccedil;a a funcionar, me torno um po&ccedil;o sem fundo. E em um momento certo devo parar. Sen&atilde;o, eu me arrisco a prosseguir indefinidamente. Sou um diretor art&iacute;stico artes&atilde;o, trabalho fisicamente com as coisas. Corto, costuro, monto e remonto as roupas. Gosto de &ldquo;manipular&rdquo; uma pe&ccedil;a desenvolvida pelos meus colaboradores, n&atilde;o para destru&iacute;-la, mas para aproxim&aacute;-la da minha vis&atilde;o. N&atilde;o desenho muito; procuro ter mais o contato com a pe&ccedil;a. &Eacute; um m&eacute;todo estabelecido com o tempo passado junto a Daniel Lee, na Bottega Veneta. Para ele, tamb&eacute;m, a manipula&ccedil;&atilde;o e a espontaneidade s&atilde;o fundamentais.

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L&rsquo;O Como voc&ecirc; se relaciona com seu guarda-roupa pessoal?

WC Tenho um closet enorme, com mais de 500 pares de sapatos. &Agrave;s vezes, compro sabendo que n&atilde;o vou usar, porque &eacute; muito exc&ecirc;ntrico. Mas compro da mesma forma pelo simples prazer de ter algo maravilhoso. Meu look nunca &eacute; extremo, coloco apenas um toque de extravag&acirc;ncia nos detalhes. Gosto de fazer as pessoas sorrirem e notarem alguma coisa inesperada quando me encontram.

L&rsquo;O Quem foi a pessoa mais importante em sua vida?

WC Meu av&ocirc; paterno, que trabalhava no campo e me ensinou a humildade. Ele nunca entendeu o que eu fazia, mesmo assim sempre acreditou em mim. No fim do meu primeiro desfile Tod&rsquo;s, quando me empurraram para saudar o p&uacute;blico, foi a primeira pessoa em que pensei. Carrego sua inoc&ecirc;ncia e autenticidade em meu cora&ccedil;&atilde;o.

FOTOS: Simone Battistoni.

PRODU&Ccedil;&Atilde;O DE MODA: Giulio Martinelli.

MODELOS: Matilde Rastelli ELITE e Thiam MAMA IMG.

CABELO E MAQUIAGEM: Amy Kourouma.

CASTING: Laura Stella Motta.

Walter Chiapponi, diretor criativo da Tod’s, fala do DNA da marca

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