Andr&eacute; Lima encontrou L&rsquo;OFFICIEL na Pinga, loja nos Jardins que transformou em extens&atilde;o de casa, para uma entrevista exclusiva. Confira!

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 Andr&eacute; Lima deu uma volta completa em si mesmo. H&aacute; 30 anos, migrou de Bel&eacute;m para S&atilde;o Paulo, se tornou nome forte do cen&aacute;rio brasileiro, com shows exuberantes no SPFW e ateli&ecirc; lotado, largou tudo e foi se entender em outros processos. Hoje, &eacute; um dos poucos da gera&ccedil;&atilde;o 1990 que segue produzindo moda com seu pr&oacute;prio nome, agora em vers&atilde;o desamarrada: sozinho em casa, atualizando mat&eacute;rias-primas antigas em vontades pr&oacute;prias de shapes e volumes &mdash; e um certo fetiche por tecidos bons &mdash;, atr&aacute;s de uma clientela que n&atilde;o quer saber da &uacute;ltima tend&ecirc;ncia. Com isso, entrou como paralelo em um cen&aacute;rio dominado por jovens criadores, com a vantagem da experi&ecirc;ncia de quem j&aacute; passou dos 50. &ldquo;De repente, me vi fazendo exatamente a mesma coisa de quando cheguei, aos 22: fazer a roupa que quero, levar numa loja e dizer &lsquo;oi, tudo bem?&rsquo;&rdquo;, relembra. Andr&eacute; encontrou L&rsquo;OFFICIEL na Pinga, loja nos Jardins que transformou em extens&atilde;o de casa, para um balan&ccedil;o de ideias.
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 L&rsquo;OFFICIEL Por onde andou Andr&eacute; Lima desde o &uacute;ltimo desfile? ANDR&Eacute; LIMA Nossa, eu fiquei fazendo um monte de coisas para um monte de gente. Atuei dentro de empresas que estavam criando marcas. Fiquei quase tr&ecirc;s anos na Hope, capacitando equipe para fazer beachwear e fitness. Eu sempre gostei de tudo. N&atilde;o &eacute; porque eu n&atilde;o fa&ccedil;o uma coisa no meu dia a dia que aquilo n&atilde;o me atrai, tecnicamente, sabe? Depois, em 2018, dei aula em Bel&eacute;m por um ano. Foi enriquecedor. H&aacute; esse projeto no polo joalheiro de l&aacute;, que trouxe mil pessoas de fora para criar esses arranjos produtivos voltados para joias. Ent&atilde;o quiseram fazer o mesmo com a moda, fomentar essa hist&oacute;ria de designers locais. Eram 30 pessoas de todas as idades, um trabalho completamente diferente do outro. Rolou essa viagem interna de conhec&ecirc;-los &mdash; e ver onde eu poderia explorar, fazer pontes e acompanhar os processos. Eu nunca havia tido uma experi&ecirc;ncia assim, de mentoria t&ecirc;te-&agrave;-t&ecirc;te. Compartilhei muito do meu processo de montagem de territ&oacute;rio criativo. Foi um mergulho muito interessante, tanto na quest&atilde;o da mat&eacute;ria-prima local quanto na quest&atilde;o da m&atilde;o de obra e da artesania. Tem mil hist&oacute;rias que ningu&eacute;m nem ouviu falar ainda.
 L&rsquo;O Esse mergulho era novo para voc&ecirc;? AL Mais ou menos. Era novo no sentido de entendimento do&nbsp;cen&aacute;rio como uma cadeia. Para mim aquilo funcionava como um mergulho cultural e emocional, era uma viagem muito pessoal. Eu n&atilde;o ia atr&aacute;s do artes&atilde;o, n&atilde;o interagia com quem faz moda. Depois, comecei a levar essas pessoas no meu roteiro de imers&atilde;o, e o pessoal virou coletivo. Na sequ&ecirc;ncia, fiquei na Iorane por quase tr&ecirc;s anos.
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 L&rsquo;O Um choque de cen&aacute;rios completamente diferentes. AL Absolutamente. Foi engra&ccedil;ado, pois me ligaram quando acabei esse processo em Bel&eacute;m, no caminho para o aeroporto. A&iacute; era um olhar sobre a moda mais envolvido com o que j&aacute; est&aacute; rolando. N&atilde;o &eacute; sobre fazer a onda, &eacute; aproveitar a onda. Foi uma consultoria interna, durou at&eacute; o comecinho da pandemia. Deu tudo certo, foi &oacute;timo. Mas, ao mesmo tempo, foi um processo importante para eu entender o que eu n&atilde;o queria. N&atilde;o me interessa estar nesse contexto de ind&uacute;stria &mdash; que nem &eacute; brasileiro, &eacute; mundial &mdash;, de n&atilde;o refletir de onde vem o tecido que se usa, por exemplo. Da&iacute; tenho esse acervo de mat&eacute;ria-prima em casa, de cole&ccedil;&otilde;es antigas, que passei a resgatar. Fazia esse exerc&iacute;cio desde 2015. Dois anos depois que fechei, comecei com essas hist&oacute;rias de misturar tecidos. E n&atilde;o tinha pressa, nenhuma press&atilde;o, era o meu processo. Fazia tr&ecirc;s ou quatro pe&ccedil;as, alguns eventinhos aqui e em Bel&eacute;m. Tenho uma clientela muito pulsante por l&aacute;.&nbsp;
 
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 L&rsquo;O Voc&ecirc; chegou a fugir de S&atilde;o Paulo em algum momento? AL N&atilde;o. Tenho minhas pequenas fugas de fim de ano, ou no C&iacute;rio de Nazar&eacute;, mas minha vida segue sendo aqui. Durante a quarentena, eu j&aacute; tinha usado as sedas e ainda n&atilde;o tinha colocado as m&atilde;os nos algod&otilde;es. Ent&atilde;o comecei a brincar com eles, ver o que acontece se misturar um com outro. Sozinho em casa, experimentando. Nunca tinha modelado, era algo que algu&eacute;m fazia. Mas na pandemia n&atilde;o tinha como, ent&atilde;o peguei moldes que j&aacute; tinha, fiz uns frankensteins que acabaram rolando.
 
 L&rsquo;O Virou um Andr&eacute; freestyle. AL Super, me sinto assim. N&atilde;o tenho data fixa para lan&ccedil;ar, zero compromisso com isso. E h&aacute; esse fator de poder fazer experimenta&ccedil;&otilde;es loucas, e todas rolam. Nada fica parado. Esses vestidos em que misturo cinco ou seis tecidos de cole&ccedil;&otilde;es completamente diferentes, uns compos&eacute;s da minha cabe&ccedil;a, tecido do Panam&aacute; misturado com tafet&aacute; italiano.
 L&rsquo;O Quando sabe que o drop est&aacute; pronto para ser lan&ccedil;ado? AL Fica pronto quando fica pronto. Sigo uma coisa muito em cima do material que vou identificando. N&atilde;o uso mais tecidos de cole&ccedil;&otilde;es atuais, s&atilde;o de cole&ccedil;&otilde;es anteriores. E tenho muito esse desejo de experimentar tecidos que v&ecirc;m de outros campos. Noventa por cento desta cole&ccedil;&atilde;o &eacute; feita com camisaria masculina. Tecido n&atilde;o tem idade, n&atilde;o tem g&ecirc;nero, n&atilde;o tem hora. Tecido &eacute; tecido. No m&aacute;ximo, &eacute; usar algo para esquentar ou um mais leve, para um lugar mais quente.
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 L&rsquo;O E tamb&eacute;m cai nessa conversa que voc&ecirc; citou antes, de n&atilde;o querer atender o momento, seguir a onda. AL &Eacute; o meu entendimento do momento. O uso do algod&atilde;o foi isso. N&atilde;o fazia sentido, num momento de pandemia, as marcas fazendo um monte de roupa de poli&eacute;ster e a pessoa em casa, vestindo isso.
 L&rsquo;O Voc&ecirc; j&aacute; funcionava assim quando tinha a sua marca ou ainda tentava se encaixar no mercado? AL Nunca tentei me encaixar porque sabia que n&atilde;o ia conseguir, ent&atilde;o nem tentava. Fazia o SPFW, ent&atilde;o tinha que ter aquela data, claro. Mas meu calend&aacute;rio era outro. E tinha esse fator: quando o mercado n&atilde;o estava t&atilde;o aberto para as grifes de fora, as pessoas tinham nossas marcas para trabalhar. Havia uma rela&ccedil;&atilde;o com as lojas, n&atilde;o interessava tanto se lan&ccedil;&aacute;ssemos agora ou daqui a pouco. Eu fazia o que era poss&iacute;vel na minha estrutura. E era uma roupa com muito desenvolvimento. Todo fim de cole&ccedil;&atilde;o era um recome&ccedil;o. A gente sa&iacute;a de uma cole&ccedil;&atilde;o superflow para uma estruturada, era um aprendizado. Essa liberdade tinha um pre&ccedil;o, mas as pessoas topavam. Tudo mudou quando as lojistas come&ccedil;aram a ter mais acesso &agrave;s marcas de fora.
 L&rsquo;O Sente falta dessa &eacute;poca? AL N&atilde;o, e justamente por isso. Lembro que um dia me vi feito Jacques Leclair de Ti-Ti-Ti: estava indo trabalhar todo arrumado no blazer, atender as clientes sob medida, depois tinha n&atilde;o sei mais o qu&ecirc;. E eu ria, falava &ldquo;olha a&iacute;&rdquo;. Acabava desempenhando esse&nbsp;papel, meio como uma grande brincadeira na minha cabe&ccedil;a. Era um personagem. N&atilde;o entrava em papos mais profundos, n&atilde;o falava sobre pol&iacute;tica, sobre coisas que atualmente seria dif&iacute;cil evitar.
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André Lima

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 L&rsquo;O Esse personagem seria coerente hoje? AL N&atilde;o, nem pensar! E eu estou mais relax, mais para David Byrne, do Talking Heads. Era uma coisa daquele momento, que mudou. Tudo se desconstruiu. Mas, apesar do personagem, o trabalho era extremamente s&eacute;rio.
 
 L&rsquo;O Foram o que, 15 anos? AL Sim, abri em 1999. E tinha essa equipe que foi se fazendo junta. Essa &eacute;poca foi aben&ccedil;oada, no sentido de possibilidades criativas. Era o melhor dos mundos. Eu tinha o ateli&ecirc; e conseguia bancar, fazer experimenta&ccedil;&otilde;es e aprender. Claro, levei muita porrada para chegar nisso. Mas existia. Hoje, o processo todo sai da minha m&atilde;o.
 L&rsquo;O Mas acha que &eacute; melhor hoje, de alguma maneira? AL Hoje o meu corre &eacute; totalmente jovem. Isso &eacute; &oacute;timo! As pessoas me colocam nesse lugar, ao lado de outra galera com vinte e poucos, trinta anos. Eu tenho 52, a minha gera&ccedil;&atilde;o &eacute; a dos anos 1990. E &eacute; tudo natural. O que me incomoda &eacute; a caretice, essa coisa de ter que se encaixar. Eu n&atilde;o tenho esse compromisso, a minha vontade &eacute; fazer coisas confort&aacute;veis e que v&aacute;rios corpos consigam usar. Vejo como pe&ccedil;as atemporais, exatamente porque tenho esse feedback muito forte de quem tem roupas minhas de outras &eacute;pocas. Hoje, atendo tamb&eacute;m as filhas dessas clientes, que t&ecirc;m de idade o que eu tenho de carreira. Acho legal poder fazer experimenta&ccedil;&otilde;es sofisticadas. N&atilde;o falo sobre o brilho, o bordado luxuoso &mdash; mas sobre o tempo que voc&ecirc; leva. Isso &eacute; o novo luxo. Hoje em dia, n&atilde;o &eacute; qualquer tecido que se pode usar. Primeiro porque as f&aacute;bricas quebraram, as tecelagens, as fia&ccedil;&otilde;es. Basicamente &eacute; s&oacute; importa&ccedil;&atilde;o, &eacute; 99,9% China. N&atilde;o quero contribuir com essa coisa de comprar tanto tecido de pl&aacute;stico, de poli&eacute;ster, e deixar isso no mundo. E mesmo no tamanho das cole&ccedil;&otilde;es. T&iacute;nhamos uma coisa insana. Se vendesse pouco, n&atilde;o era ningu&eacute;m. Era uma necessidade de aumentar, de criar, para se manter num patamar, dizer que era foda. Havia um desejo muito forte de excel&ecirc;ncia. Tanto do lado dos estilistas quanto de quem comprava. O cara s&oacute; ficava l&aacute; em cima, s&oacute; vendia nas lojas boas, se realmente tivesse uma roupa impec&aacute;vel.
 L&rsquo;O Isso n&atilde;o importa mais? AL Para mim, ainda importa. Mas vejo que &eacute; mais sobre o conte&uacute;do, quem tem milh&otilde;es de seguidores. N&atilde;o &eacute; sobre a costura primorosa, &eacute; sobre o look, a repeti&ccedil;&atilde;o do look. &Eacute; esse outro lado.
 L&rsquo;O Voc&ecirc; acha que esses pensamentos t&ecirc;m a ver com idade? Voc&ecirc; &eacute; outra pessoa aos 52? AL Acho que outra, n&atilde;o. Mas aprendi a n&atilde;o dar tanto valor para coisas que eu dava, situa&ccedil;&otilde;es, posturas. Sou virginiano, acabo sendo ultra-anal&iacute;tico at&eacute; sem querer. Da an&aacute;lise para a cr&iacute;tica, &eacute; um minuto. &Eacute; uma an&aacute;lise que te d&aacute; uma maturidade. E eu n&atilde;o fico mais me perguntando se daqui a um ano quero estar assim, daqui a dois anos... como vejo uma galera hoje, com a cabe&ccedil;a no business plan, parecem aqueles yuppies. J&aacute; fui um pouco assim, estou bem mais hippie.
 L&rsquo;O Voc&ecirc; tem uma fala mais serena hoje, mesmo. AL Naquela &eacute;poca havia esse fator tenso que &eacute; ter que lidar com a vida das pessoas. Cheguei a ter quase cem funcion&aacute;rios. O sob medida, algo que nunca imaginei que faria, que nunca investi, cresceu muito r&aacute;pido. Quando era &eacute;poca de casamentos vinha a noiva, vinha a m&atilde;e da noiva, a irm&atilde;, a madrinha. Virava um show ao vivo, em cima de um vestido que n&atilde;o podia dar errado. E tinha aquela equipe que eu fui montando, muita gente jovem. Eu me divertia, &eacute; claro. Mas a estrutura era uma tens&atilde;o. O meu objetivo era fazer a roupa que queria e n&atilde;o ficar &agrave; merc&ecirc; de algu&eacute;m aprovar. &Eacute; muito bom que as pessoas se identifiquem e tal, mas ter que ser aprovado... n&atilde;o passa pela minha cabe&ccedil;a. Fazer tudo certo, cumprir com as expectativas que o p&uacute;blico espera. N&atilde;o quero cumprir expectativas do que &eacute; correto. Ent&atilde;o esse formato de agora me desafia. Nem tenho ateli&ecirc;, &eacute; tudo em casa. &Eacute; um retorno ao come&ccedil;o. Isso &eacute; muito mais importante do que querer ser gigante.
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 L&rsquo;O Ao mesmo tempo, sua roupa n&atilde;o &eacute; trivial. AL Acredito que n&atilde;o, fa&ccedil;o tudo para que n&atilde;o seja. Tenho cuidado extremo, uso t&eacute;cnicas que n&atilde;o s&atilde;o da roupa de algod&atilde;o, na roupa de algod&atilde;o. Quando chego na Pinga com uma proposta de silhueta assim. Estamos no Brasil, a brasileira tem uma quest&atilde;o com a cintura que &eacute; atroz, sexista para caralho. Ent&atilde;o, chegar propondo uma roupa solta no corpo, com volume que n&atilde;o vai demandar que o peito esteja assim, que a cintura esteja assado... Isso vai, por exemplo, completamente contra essa moda de agora, de buracos nos vestidos. &Eacute; legal a ideia, &eacute; um ponto da mulher que &eacute; muito interessante. Mas se todo mundo faz... voc&ecirc; fica observando e passa uma, quatro, dez, todas com o mesmo vazado. Quando chega nessa coisa da moda, me desinteresso.
 L&rsquo;O Voc&ecirc; se policia para n&atilde;o cair nessas armadilhas da moda? AL N&atilde;o, eu sou muito ligado nisso. O tempo traz isso, n&eacute;? Voc&ecirc; sente o cheiro. Dependendo do que &eacute;, de quem usa, j&aacute; sente que vai pegar. N&atilde;o estou falando que nunca farei uma roupa com buraco. Mas o que n&atilde;o h&aacute; &eacute; o esfor&ccedil;o de ter que ir para o lado contr&aacute;rio. N&atilde;o &eacute; como se estivesse me comparando. Por isso essa coisa de trabalhar em casa tem sido fant&aacute;stica. Voc&ecirc; est&aacute; ali com a sua comida, com a sua m&uacute;sica, &eacute; apenas voc&ecirc; e a sua ess&ecirc;ncia.
 L&rsquo;O N&atilde;o tem o risco de se isolar dentro da pr&oacute;pria bolha e se perder fazendo algo que n&atilde;o se comunica com o mundo? AL Boa pergunta, n&atilde;o sei. Acho que &eacute; diferente quando se estabelece o que nos deixa confort&aacute;veis, mas sem abrir m&atilde;o de outras experimenta&ccedil;&otilde;es. Neste momento, por raz&otilde;es de fam&iacute;lia, eu tenho ido e voltado de Bel&eacute;m com frequ&ecirc;ncia. Por mais que l&aacute; seja o meu lugar, existem v&aacute;rias Bel&eacute;ns de acordo com o que estou enxergando naquele momento. Esses exerc&iacute;cios de deslocamento existem, n&atilde;o estou numa bolha onde n&atilde;o entra ningu&eacute;m. Claro que pode acontecer, ficar dando voltas ali, na mesma coisa. H&aacute; esse risco. Mas sou muito ansioso, muito inquieto, at&eacute; meio insuport&aacute;vel &mdash; num sentido de nunca achar que est&aacute; tudo bem. Acho que o desafio &eacute; o seguinte: o que posso fazer que seja meu, que esteja dentro do que acredito, do que vejo e sinto &mdash; mas que fale com o momento?
 L&rsquo;O Voc&ecirc; ainda se considera um estilista de moda festa? Isso faz sentido, hoje em dia? AL Mas voc&ecirc; acha que eu era estilista de moda festa?
 L&rsquo;O Em parte, sim. Voc&ecirc; chegou a dizer isso na &eacute;poca, em algum momento. Tenho essa lembran&ccedil;a. AL Curioso voc&ecirc; falar isso, n&atilde;o me lembro. Esse nunca foi um t&iacute;tulo que me dei, pois nunca me vi fazendo s&oacute; isso. Como falei no come&ccedil;o da conversa, eu sempre gostei de me desafiar.
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 L&rsquo;O Imagino que o t&iacute;tulo veio por conta dos desfiles exuberantes, dos shows. Havia essa necessidade de te encaixar. AL Pode ser, eram os desfiles, o que as pessoas viam. Talvez por esse personagem meio Jacques Leclair, talvez por fazer muita roupa sob medida. Mas metade da cole&ccedil;&atilde;o era de algod&atilde;o, isso &eacute; fato. Tinha essa demanda, sempre trabalhei com tecido natural. E o que tinha de natural era algod&atilde;o e seda. O &uacute;ltimo desfile que fiz n&atilde;o era de festa. N&atilde;o fechei o SPFW, foi de tarde, numa sala menor. Exatamente porque o show j&aacute; tinha virado uma regra, algo que se esperava de mim.
 L&rsquo;O Se precisasse botar uma hashtag pra classificar o seu trabalho hoje, tem alguma? AL Nunca pensei nisso.
 
 L&rsquo;O E naquela &eacute;poca, teria? AL Era outra &eacute;poca, n&atilde;o sei... Mas a coisa da roupa de festa me traz um questionamento que tenho h&aacute; tempos em rela&ccedil;&atilde;o ao formato das festas. Quando vejo as pessoas todas vestidas meio parecidas, aquilo j&aacute; n&atilde;o me interessa. Acaba virando mais do mesmo. E muito nesse contexto do Instagram &mdash; o que importa &eacute; se ficou bem na foto. Perde-se a coisa de olhar a roupa por dentro, de saber se o tecido &eacute; bom, de forrar com seda. Imagina, o forro de cetim de seda &eacute; o luxo do luxo que voc&ecirc; est&aacute; dando para a pessoa, de ela saber o que est&aacute; tocando seu corpo. Gra&ccedil;as a Deus, hoje, existem milh&otilde;es de formatos de festa &mdash; e v&aacute;rias possibilidades de se vestir. Ent&atilde;o o que faz mais sentido &eacute; voc&ecirc; usar uma roupa elaborada com o que gosta no dia a dia, misturando. &Eacute; muito mais interessante do que aquilo que &eacute; muito correto, &ldquo;de bom-tom&rdquo; &mdash; &eacute; isso que acho demod&ecirc;: a pessoa se vestir no sentido de ser aceita. Se eu tivesse um ateli&ecirc; hoje para festa, seria esse meu racioc&iacute;nio: fazer pe&ccedil;as cambi&aacute;veis, que possam ser usadas de dia. &Eacute; um exerc&iacute;cio que tem a ver comigo, &eacute; a pesquisa que me direciona. N&atilde;o &eacute; sobre desenhar a roupa e procurar o tecido que se encaixe &mdash; &eacute; mais sobre qual tecido me emociona, depois entender o que ele pode virar.
 L&rsquo;O Ainda tem muito acervo para gastar? AL Minha fam&iacute;lia em Bel&eacute;m &eacute; de costureiras. E tinha essa prima da minha m&atilde;e, uma estilista que s&oacute; fazia roupa de festa e comprava muito tecido bom, Casa Alberto, coisas de fora, uns bordados absurdos que n&atilde;o vinham para c&aacute;. Um dia, a filha dela me chama para ver coisas que estavam l&aacute;, paradas. Descobrimos sacos e mais sacos de rendas incr&iacute;veis, materiais, tudo guardado h&aacute; muito tempo. Ent&atilde;o eu j&aacute; estou entrando no acervo da fam&iacute;lia! Isso vai dar em outra hist&oacute;ria, vamos fazer coisas juntos &mdash; inclusive misturando os meus tecidos. Mas eu ainda tenho bastante coisa aqui, sim, minha. &Eacute; engra&ccedil;ado conviver com esses rolos... tem dia que voc&ecirc; olha para um tecido e acha que n&atilde;o usar&aacute; nunca. Um m&ecirc;s depois, aquilo &eacute; exatamente o que faltava.
 L&rsquo;O O teu primeiro desfile, l&aacute; atr&aacute;s, tem a ver com o que faz hoje, n&eacute;? Esse samba com peda&ccedil;os de panos um pouco aleat&oacute;rios. AL Era, super. Na Semana de Moda [nome original da Casa de Criadores] em 1999. Eu pegava tecido na Tecelagem Franceza, na Rua Augusta &mdash; quem era estilista l&aacute;, naquela &eacute;poca, era o Rober Dognani. Muita coisa vinha manchada, danificada e eu apenas usava, feliz. Tinha muito retalho, umas zibelines absurdas. Ent&atilde;o eu j&aacute; comecei, naquela &eacute;poca, trabalhando com esses tecidos, juntando com outros que vinham da minha fam&iacute;lia. Sempre foi um pouco isso, que hoje chamam de curadoria t&ecirc;xtil. Pensando aqui, acho que a hashtag de hoje &eacute; #livre, sabia? Estou sempre transitando nesse contexto de moda, mas n&atilde;o sou esse contexto. &Eacute; sempre um olhar estrangeiro.
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 L&rsquo;O Voc&ecirc;, por muito tempo, foi o &uacute;nico estilista do Norte com mais destaque. Mas n&atilde;o havia tanto essa discuss&atilde;o identit&aacute;ria. Voc&ecirc; se sentiria confort&aacute;vel em assumir esse papel de dar visibilidade &agrave; regi&atilde;o? Como &eacute; essa identidade para voc&ecirc;? AL Sabe que eu sempre brinquei com isso? Em todos os lugares que falavam sobre mim, nunca era &ldquo;o estilista Andr&eacute; Lima&rdquo;, era &ldquo;o estilista paraense Andr&eacute; Lima&rdquo;. Mas sim, essa ponte de usar a minha influ&ecirc;ncia para mostrar pessoas de l&aacute; &eacute; algo que estou buscando construir. Apesar de achar que, quando falamos sobre trazer algu&eacute;m, n&atilde;o deixa de ser uma fala colonizadora, de certa forma.
 L&rsquo;O Sim, mas seria importante usar a sua voz para mostrar algu&eacute;m que esteja em Bel&eacute;m, em Santar&eacute;m, ou qualquer outro lugar do Par&aacute;, que faz algo de interessante. AL Isso &eacute; uma coisa que reverbera muito mais se tiver alguma pol&iacute;tica p&uacute;blica junto. Esse ano que passei dando mentorias por l&aacute;, descobri e mapeei muita gente. Mas acho essencial fomentar o lugar. Quero que as pessoas daqui n&atilde;o s&oacute; conhe&ccedil;am os criativos de Bel&eacute;m &mdash; mas que saibam que h&aacute; coisas que s&oacute; existem l&aacute;. &Eacute; t&atilde;o importante quanto, esse terroir, sabe? Isso &eacute; poss&iacute;vel, mas &eacute; uma cadeia produtiva que precisa ser desenvolvida. N&atilde;o h&aacute; uma faculdade de modelagem, por exemplo. S&oacute; uma ou duas que formam estilistas.
 L&rsquo;O E esses estilistas t&ecirc;m onde trabalhar? AL N&atilde;o, a&iacute; que est&aacute;. N&atilde;o h&aacute; um mercado. &Agrave;s vezes bomba uma confec&ccedil;&atilde;o, mas &eacute; uma s&oacute;. N&atilde;o absorve. Por isso falo que demanda pol&iacute;ticas p&uacute;blicas, &eacute; um fomento que mexe com tudo. Mexe com forma&ccedil;&atilde;o, com o entendimento daquilo como uma cadeia. Para que a pessoa n&atilde;o tenha que sair de l&aacute;, como eu fiz. Tenho mais tempo de S&atilde;o Paulo do que tive de Bel&eacute;m. Mas n&atilde;o necessariamente esse &eacute; o &uacute;nico caminho. Hoje &eacute; muito mais legal a pessoa ser de l&aacute;, estar e continuar l&aacute;. &Eacute; esse cuidado que &eacute; preciso, construir de um jeito que a pessoa n&atilde;o perca o pertencimento. Para isso &eacute; necess&aacute;rio que haja frentes de investimento, de pol&iacute;tica p&uacute;blica, e tamb&eacute;m na iniciativa privada.
 L&rsquo;O A&iacute; estamos falando de uma coisa de base, concordo. Mas n&atilde;o acha que voc&ecirc; pode fazer algo menor, por conta pr&oacute;pria? AL Posso, claro. Mas, de novo: &eacute; muito necess&aacute;rio que se implemente essa cadeia, para n&atilde;o ser um esfor&ccedil;o &agrave; toa. Para comparar, se voc&ecirc; pega a gastronomia, h&aacute; essa cadeia. A culin&aacute;ria paraense virou um assunto importante, consistente e ancestral. E isso aconteceu porque tem as feiras, as pessoas que plantam... a hist&oacute;ria come&ccedil;a na mat&eacute;ria-prima. Na m&uacute;sica, a mesma coisa: tem os est&uacute;dios, os m&uacute;sicos, voc&ecirc; se resolve l&aacute;. Tanto que a m&uacute;sica paraense tamb&eacute;m ficou conhecida nacionalmente, de Faf&aacute; de Bel&eacute;m a Gaby Amarantos e Jaloo. Para termos uma moda paraense, &eacute; igual: precisa-se de uma cadeia. Hoje temos o chef pop, a cantora conhecida; eles n&atilde;o vieram do nada, houve uma base. Para ser o estilista que sou hoje, eu sa&iacute; de l&aacute;. O Marco Normando, que &eacute; o menino atual do Par&aacute;, tamb&eacute;m n&atilde;o est&aacute; l&aacute;. Quando vou a Bel&eacute;m, fico com a cabe&ccedil;a a mil porque fico pensando exatamente nisso, vejo possibilidades. Mas algu&eacute;m precisa fazer esse dever de casa, criar uma engrenagem para funcionar. E me mantenho conectado. Fui descobrindo uma galera de produ&ccedil;&atilde;o de moda, de maquiagem, o povo da fotografia. A coisa est&aacute; pulsando.
 L&rsquo;O Voc&ecirc; precisa fazer alguma coisa com isso, homem! AL Eu vou fazer (risos), calma! Tem coisas rolando, mas ainda precisa de um tempo.
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Cr&eacute;ditos: 
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 ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Alan Ferraz. MODELOS: Vivica eAmandaBrolese.(WayModel) BEAUTY:MaxWeber. MANICURE: Rose Lunna. PRODUÇÃO EXECUTIVA: Ana Luiza Neves. RETOUCH: Elaine Takahashi. AGRADECIMENTO: Room
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André Lima em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil

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