"Nunca pare de estudar, essa talvez seja minha grande mensagem. E principalmente estudar a si mesmo. A sa&uacute;de mental &eacute; imprescind&iacute;vel nesse mundo mais virtual que real"&nbsp;

Ikaro Kadoshi chega tem uma carreira cada vez mais brilhante! A drag queen foi a primeira do mundo a apresentar o Miss Universo, em 2020, e desfilou na &uacute;ltima edi&ccedil;&atilde;o da SPFW55 para a TA Studios. Em todo projeto que participa, Ikaro carrega o compromisso de ampliar os horizontes da arte drag.
Neste ano, Kadoshi estreou o reality show "Caravana das Drags&rdquo; no Prime Video, apresentando a competi&ccedil;&atilde;o ao lado de Xuxa. No programa, 10 drag queens viajam pelo Brasil, participando de uma s&eacute;rie de desafios para se tornar a Soberana. A temporada completa est&aacute; dispon&iacute;vel no streaming.&nbsp;
A L&rsquo;Officiel Hommes conversou com Ikaro Kadoshi sobre sua carreira, projetos e seu compromisso com a comunidade LGBTQIAPN+
FOTOS: <a href="https://www.instagram.com/alexsantanaphotographer/">ALEX DOS SANTOS SANTANA&nbsp;</a>

L'Officiel: Quais foram suas inspira&ccedil;&otilde;es no in&iacute;cio da sua carreira como drag?&nbsp;
Ikaro Kadoshi: Eu era muito t&iacute;mido at&eacute; a adolesc&ecirc;ncia e me encantei com a fun&ccedil;&atilde;o social e desenvoltura das drag queens. A partir disso, comecei a frequentar os camarins, onde observava as &ldquo;monta&ccedil;&otilde;es&rdquo; e aprendia todos os truques. Em 1999, conheci Romana Rose, com a qual dividia a paix&atilde;o pela mitologia greco-romana e por quem fui batizado de Ikaro. A partir disso, comecei a me olhar de uma forma diferente e nunca tinha parado para pensar que poderia me montar, ser drag. Eu comecei a pensar em como fazer algo diferente da arte que eu via e passei a me enxergar como um quadro em branco. Queria fazer algo que fosse meu. Aos poucos, fui me aprimorando e experimentando diversas maquiagens, personagens e est&eacute;ticas, sempre com batom escuro, os que via minha m&atilde;e usar, e figuras como Vera Ver&atilde;o e David Bowie. Em S&atilde;o Paulo, aprendi muito com M&aacute;rcia Pantera, Silvetty Montilla e Dimmy Kieer, desde criar um espet&aacute;culo com p&uacute;blico, at&eacute; a desenvoltura no palco.

L'Officiel: Agora com um nome consolidado na cena, o que voc&ecirc; reflete sobre a sua jornada?
Ikaro Kadoshi: &Eacute; um eterno superar obst&aacute;culos, um exerc&iacute;cio de paci&ecirc;ncia e amor. Ao longo desses 23 anos de carreira, j&aacute; fiz shows em praticamente todas as boates LGBTQIAPN+ do Brasil, em 10 pa&iacute;ses diferentes, e j&aacute; morei em um navio por 6 meses fazendo performances. Na televis&atilde;o, ser a primeira Drag a apresentar um programa de TV na hist&oacute;ria da Am&eacute;rica Latina &eacute; um marco. Tamb&eacute;m fui apresentador do Miss Universo em 2021, pela TNT, e convidado para apresentar o esquenta do Oscar e do Emmy, sendo tamb&eacute;m a primeira Drag Queen do mundo a apresentar essas premia&ccedil;&otilde;es na TV, foram momentos important&iacute;ssimos para minha arte. Com isso, me sinto realizado, mas o principal desafio ainda &eacute; a falta de valoriza&ccedil;&atilde;o da arte, assim como o seu entendimento. A luta segue sendo para que as Drags tenham mais visibilidade e oportunidades, e para que as pessoas em casa possam conversar entre si e discutir sobre o que &eacute; a arte Drag e seu impacto na vida das pessoas. Como arte universal, a Drag pode e deve estar em todos os lugares.&nbsp;

L'Officiel: Como voc&ecirc; analisa o momento atual do Brasil e da comunidade LGBTQIAPN+?
Ikaro Kadoshi: O Brasil n&atilde;o valoriza a sua cultura e n&atilde;o conhece a sua pr&oacute;pria hist&oacute;ria, ent&atilde;o, abrir caminhos para a cultura Drag em um pa&iacute;s extremamente preconceituoso, &eacute; uma trajet&oacute;ria de sucesso e demanda muito talento, coragem e, principalmente, estudo.&nbsp;
Pra mim, nunca foi chegar em lugares novos, mas sim retomar o que &eacute; nosso de direito. Se todas as artes s&atilde;o consideradas sagradas e grandes, a drag queen tem que estar entre elas. E nossa comunidade ainda est&aacute; aprendendo a dialogar entre si, entendendo as quest&otilde;es que cada letra carrega. Nesses &uacute;ltimos anos, aprendemos muito sobre quem &eacute; o brasileiro em sua realidade e os preconceitos que ele carrega. A diversidade sempre existiu na hist&oacute;ria da humanidade e, mesmo ainda se entendendo, a comunidade LGBTQIAPN+ do Brasil come&ccedil;ou uma revolu&ccedil;&atilde;o sem volta. N&atilde;o voltaremos para os arm&aacute;rios, nunca mais! Assim como n&atilde;o estamos pedindo aceita&ccedil;&atilde;o. Ningu&eacute;m precisa nos aceitar, mas sim, respeitar. Respeito vem da educa&ccedil;&atilde;o, e da consci&ecirc;ncia de que todos t&ecirc;m os mesmos direitos e deveres enquanto seres humanos.&nbsp;

L'Officiel: Qual foi o sentimento de gravar um reality show sobre a arte drag?
Ikaro Kadoshi: Desafiador e ao mesmo tempo gratificante! Ficamos quatro dias em cada cidade gravando ao redor do Brasil. Em Diamantina, Minas Gerais, o impacto foi maior. Foi onde percebemos a import&acirc;ncia de levar representatividade aos lugares: ao conhecer e conversar com as pessoas da cidade, entendemos os desafios de ser LGBTQIAPN+ ali, sendo uma realidade&nbsp; dura, ao ponto dessas pessoas n&atilde;o andarem sozinhas por medo da viol&ecirc;ncia e preconceito. Geralmente, os LGBTQIAPN+ moram em rep&uacute;blicas e sofrem hostilidades. Quando penso na mistura de arte Drag com as culturas dos estados em que gravamos, percebo que a magia do programa mora na jun&ccedil;&atilde;o de arte e cultura, e isso &eacute; transformador. Cada estado com sua peculiaridade, misturado com a peculiaridade de cada competidora Drag Queen. Tamb&eacute;m gravamos muito e muita coisa ficou fora, &oacute;bvio, pela limita&ccedil;&atilde;o do tempo de cada epis&oacute;dio. Sou muito grato por tudo que fizemos e pelas vidas que foram impactadas, levar a arte Drag a tantos lugares foi especial.&nbsp;
 
L'Officiel: Voc&ecirc; sentiu alguma press&atilde;o em ocupar esse lugar de refer&ecirc;ncia no reality e comandar din&acirc;micas com dez talentos de personalidades diferentes?&nbsp;
Ikaro Kadoshi: Inicialmente, fui contratado como consultor do programa para ensinar as pessoas envolvidas no projeto sobre a cultura Drag: o que era trabalhar com drag, dificuldades, d&uacute;vidas. Dentro desse processo, me chamaram para um teste para me tornar o apresentador. A equipe me deu um retorno positivo de que o Prime Video tinha me escolhido como apresentador, ao lado de Xuxa Meneghel. Foi um processo lindo e n&atilde;o senti press&atilde;o por ter sido escolhido. Eu tenho um orgulho gigante da minha arte ser vista naquela tela. Ainda n&atilde;o t&iacute;nhamos, no Brasil, um programa que mostrasse todas as nuances e talentos da Drag Queen brasileira, e ser o fio condutor dessa jornada &eacute; o meu maior presente.
&nbsp;
L'Officiel Voc&ecirc; comentou ter o sonho de ser a &ldquo;Hebe Camargo&rdquo; das Drag Queens. Voc&ecirc; acha que o &ldquo;Caravana das Drags&rdquo; realizou este sonho?
Ikaro Kadoshi: Dentro do sonho de ser &ldquo;a Hebe Camargo das Drag Queens&rdquo;, ter sido o apresentador da Caravana das Drags neste momento me realizou, por levar a minha arte para o maior n&uacute;mero de pessoas e pa&iacute;ses, e fomentar a discuss&atilde;o sobre a arte Drag. Mas, ainda n&atilde;o sinto que realizei ser a Hebe das Drags: ainda falta um programa de entrevistas que queria apresentar. Sou apaixonado pelo humano e suas complexidades. Falar sobre nossa exist&ecirc;ncia &eacute; outra paix&atilde;o que espero em breve realizar!
Desafiador e ao mesmo tempo gratificante! Ficamos quatro dias em cada cidade gravando ao redor do Brasil. Em Diamantina, Minas Gerais, o impacto foi maior. Foi onde percebemos a import&acirc;ncia de levar representatividade aos lugares: ao conhecer e conversar com as pessoas da cidade, entendemos os desafios de ser LGBTQIAPN+ ali, sendo uma realidade&nbsp; dura, ao ponto dessas pessoas n&atilde;o andarem sozinhas por medo da viol&ecirc;ncia e preconceito. Geralmente, os LGBTQIAPN+ moram em rep&uacute;blicas e sofrem hostilidades. Quando penso na mistura de arte Drag com as culturas dos estados em que gravamos, percebo que a magia do programa mora na jun&ccedil;&atilde;o de arte e cultura, e isso &eacute; transformador. Cada estado com sua peculiaridade, misturado com a peculiaridade de cada competidora Drag Queen. Tamb&eacute;m gravamos muito e muita coisa ficou fora, &oacute;bvio, pela limita&ccedil;&atilde;o do tempo de cada epis&oacute;dio. Sou muito grato por tudo que fizemos e pelas vidas que foram impactadas, levar a arte Drag a tantos lugares foi especial.&nbsp;

L'Officiel: Voc&ecirc; sentiu alguma press&atilde;o em ocupar esse lugar de refer&ecirc;ncia no reality e comandar din&acirc;micas com dez talentos de personalidades diferentes?&nbsp;
Ikaro Kadoshi: Inicialmente, fui contratado como consultor do programa para ensinar as pessoas envolvidas no projeto sobre a cultura Drag: o que era trabalhar com drag, dificuldades, d&uacute;vidas. Dentro desse processo, me chamaram para um teste para me tornar o apresentador. A equipe me deu um retorno positivo de que o Prime Video tinha me escolhido como apresentador, ao lado de Xuxa Meneghel. Foi um processo lindo e n&atilde;o senti press&atilde;o por ter sido escolhido. Eu tenho um orgulho gigante da minha arte ser vista naquela tela. Ainda n&atilde;o t&iacute;nhamos, no Brasil, um programa que mostrasse todas as nuances e talentos da Drag Queen brasileira, e ser o fio condutor dessa jornada &eacute; o meu maior presente.

L'Officiel: Voc&ecirc; comentou ter o sonho de ser a &ldquo;Hebe Camargo&rdquo; das Drag Queens. Voc&ecirc; acha que o &ldquo;Caravana das Drags&rdquo; realizou este sonho?
Ikaro Kadoshi: Dentro do sonho de ser &ldquo;a Hebe Camargo das Drag Queens&rdquo;, ter sido o apresentador da Caravana das Drags neste momento me realizou, por levar a minha arte para o maior n&uacute;mero de pessoas e pa&iacute;ses, e fomentar a discuss&atilde;o sobre a arte Drag. Mas, ainda n&atilde;o sinto que realizei ser a Hebe das Drags: ainda falta um programa de entrevistas que queria apresentar. Sou apaixonado pelo humano e suas complexidades. Falar sobre nossa exist&ecirc;ncia &eacute; outra paix&atilde;o que espero em breve realizar!

L'Officiel: Voc&ecirc; e a Xuxa mostraram muita sinergia durante o reality, como foi gravar ao lado da Rainha dos Baixinhos?
Ikaro Kadoshi: Acho que a Xuxa sempre foi m&uacute;ltipla em significados para mim porque ela fala com a minha crian&ccedil;a interior. A Xuxa tamb&eacute;m representa sonho, esperan&ccedil;a e resili&ecirc;ncia. N&atilde;o desistir de si e eu n&atilde;o desisti. O destino me uniu com a Xuxa para apresentar a Caravana das Drags, e acho que o resumo de trabalhar com ela &eacute;: aprendizado! Eu aprendi muito, em todos os sentidos. Como ser humano, como profissional. Ela sabe muita coisa e se voc&ecirc; for observador como eu, aprende o tempo inteiro! Sendo assim, sou grato demais por isso! Ela &eacute; din&acirc;mica, entregue, apaixonada no que faz. E eu tamb&eacute;m. E todas essas caracter&iacute;sticas ganham vida quando voc&ecirc; a observa.&nbsp;

L'Officiel: Como voc&ecirc; analisa o resultado da primeira temporada do projeto?
 
Ikaro Kadoshi: A Caravana das Drags trouxe como &eacute; mostrar o Brasil e a drag queen brasileira. Eu aprendi muitas coisas sobre a cultura de cada estado. Dentro da competi&ccedil;&atilde;o entre as participantes, acredito que estamos educando as pessoas e levando informa&ccedil;&otilde;es que elas talvez n&atilde;o tivessem. &Eacute; m&aacute;gico fazer parte dessa hist&oacute;ria. A cada mensagem de pessoas que puderam assistir o programa com suas m&atilde;es, namorados, filhos, dizendo que o programa os ajudou a conversar sobre arte e outros assuntos, eu entendo que o resultado foi alcan&ccedil;ado. E acho que agora &eacute; torcer para outras temporadas virem. Pois a tend&ecirc;ncia &eacute; s&oacute; melhorar!

L'Officiel: Podemos esperar uma segunda temporada da Caravana?
Ikaro Kadoshi: O meu desejo &eacute; que a segunda temporada de Caravana das Drags seja aprovada pelo Prime V&iacute;deo e que d&ecirc; a oportunidade de um programa com ainda mais diversidade regional do Brasil. Espero ansioso para mostrar muito mais para quem for assistir no Brasil e ao redor do mundo. O Brasil &eacute; gigante, temos muito a mostrar do pa&iacute;s e sua cultura. A gente s&oacute; sabe para onde vai se souber de onde veio.

L'Officiel: Voc&ecirc; &eacute; respons&aacute;vel pelo Drag Brunch Brasil, sobre o que &eacute; este projeto e como o p&uacute;blico pode participar?
 
Ikaro Kadoshi: Al&eacute;m de s&oacute;cio, ser o rosto do evento e tamb&eacute;m apresentador &eacute; magn&iacute;fico. O Drag Brunch &eacute; comum em outros pa&iacute;ses, e aqui j&aacute; conta com mais de 11 edi&ccedil;&otilde;es (todas esgotadas antecipadamente), e se consolidou como um dos eventos mais procurados de S&atilde;o Paulo. Realizado no Skyhall uma vez ao m&ecirc;s, uma das magias do Drag Brunch Brasil &eacute; uma ruptura em trazer para o dia a arte Drag, que geralmente s&oacute; &eacute; vista &agrave; noite, al&eacute;m de trazer pessoas que geralmente n&atilde;o v&atilde;o e n&atilde;o gostam de boates.&nbsp;

L'Officiel: Qual mensagem voc&ecirc; deseja passar para as gera&ccedil;&otilde;es futuras?
N&oacute;s nunca entendemos os caminhos da vida. No meu caso, nunca imaginei que estaria apresentando um programa que fala sobre a minha arte para o mundo todo, de uma maneira linda e ao lado de uma das maiores apresentadoras do Brasil, a Xuxa.&nbsp;
&Agrave;s vezes, as coisas demoram. E eu precisei ter paci&ecirc;ncia comigo, principalmente. Entender os movimentos do mundo e quais movimentos eu poderia fazer para estar preparado pro meu objetivo.
Nunca pare de estudar, essa talvez seja minha grande mensagem. E principalmente estudar a si mesmo. A sa&uacute;de mental &eacute; imprescind&iacute;vel nesse mundo mais virtual que real.
E eu sei que o mundo nos tira peda&ccedil;os de v&aacute;rios tamanhos todos os dias quando sa&iacute;mos de casa. Criamos lascas de prote&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o podemos escolher nem a roupa que queremos usar devido a in&uacute;meras conven&ccedil;&otilde;es sociais.
Eu espero que voc&ecirc; se liberte. Fa&ccedil;a as coisas que tem vontade sem vergonha e medo. E, assim como eu, cobre do mundo com juros e corre&ccedil;&otilde;es monet&aacute;rias cada peda&ccedil;o que ele tirou. E n&atilde;o volte um mil&iacute;metro da evolu&ccedil;&atilde;o que voc&ecirc; conseguiu por nada nem por ningu&eacute;m.

Ikaro Kadoshi em entrevista exclusiva para L’Officiel. Confira!

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