"Depois&nbsp;da&nbsp;estrada,&nbsp;come&ccedil;a&nbsp;uma&nbsp;grande avenida. No&nbsp;fim&nbsp;da&nbsp;avenida.&nbsp;Existe&nbsp;uma&nbsp;chance, uma&nbsp;sorte, uma&nbsp;nova sa&iacute;da". Rita Lee&nbsp;

Existe uma grande parcela de afeto na rebeldia. Afinal, a for&ccedil;a precursora do ato de mudan&ccedil;a &eacute; impulsionada por uma explos&atilde;o no peito de quem v&ecirc; o que est&aacute; do lado de l&aacute;. Quem vislumbra uma nova estrutura s&oacute;cio-afetiva precisa de coragem para transgredir, verbo esse quem vem sendo conjugado pelo contr&aacute;rio ao amor e a inclus&atilde;o. Naturalmente ser rebelde &eacute; questionar par&acirc;metros morais, mesmo que em doses homeop&aacute;ticas - movimento esse, exercido muitas vezes&nbsp; silenciosamente e exausto de si pr&oacute;prio, porque o esgotamento de si tamb&eacute;m &eacute; um bom sinal. Estar&nbsp; fora da m&aacute;quina por um tempo &eacute; reencontrar-se.
Recentemente, perdemos o maior s&iacute;mbolo da rebeldia-afetiva no pa&iacute;s. Rita Lee at&eacute; o fim construiu seu legado ultrapassando gera&ccedil;&otilde;es, sendo um personagem de f&aacute;cil identifica&ccedil;&atilde;o est&eacute;tica e po&eacute;tica, que recebeu todas as homenagens em vida com louvor. E seguiremos daqui com o legado dos inconformados e &agrave;s vezes cansados para a batalha mas, mesmo assim, entregues &agrave; transforma&ccedil;&atilde;o da linguagem. Rita, para al&eacute;m de ser &agrave; frente de seu tempo, era a pr&oacute;pria personifica&ccedil;&atilde;o de tempo e do que, no final, &eacute; o que fica de eterno no mundo: o afeto.
O que h&aacute; de mais m&aacute;gico em Rita &eacute; o fato de ser avessa a si em alguns momentos, de se permitir cansar de si, reconfigurar a si e continuar, em busca de uma lapida&ccedil;&atilde;o mais generosa consigo e com o mundo. Ela estava certa: tudo vira bosta. Queria que todo mundo encontrasse sua Rita Lee interna, aquela que consegue ser coerente e subversiva ao mesmo tempo.&nbsp;

Rita Lee (Foto: reprodução/instagram)

O que h&aacute; de mais m&aacute;gico em Rita &eacute; o fato de ser avessa a si em alguns momentos, de se permitir cansar de si, reconfigurar a si e continuar, em busca de uma lapida&ccedil;&atilde;o mais generosa consigo e com o mundo.

Rita Lee

Inegavelmente, o meio em que vivemos dita como s&atilde;o postos na mesa os afetos. Estes, para al&eacute;m dos la&ccedil;os amorosos ou familiares, s&atilde;o tudo aquilo que meu corpo absorve atrav&eacute;s da identifica&ccedil;&atilde;o ou estranhamento. Muitas vezes pegamos uma via imposta pelo cen&aacute;rio externo e nos deixamos levar. Enquanto a era tecnol&oacute;gica muda nossa estrutura mental, automaticamente o DNA do corpo, esse canal para os afetos, tamb&eacute;m sofre muta&ccedil;&atilde;o pelos novos est&iacute;mulos.
De quais encontros somos capazes, mas tamb&eacute;m quais encontros s&atilde;o poss&iacute;veis na sociedade em que vivemos? Ou seja, todos os afetos s&atilde;o tamb&eacute;m (bio)pol&iacute;ticos.&nbsp;
Em terra de like, se fazer presente &eacute; um ato de amor.
Para se tornar parte ativa dos afetos, &eacute; importante que tiremos os binarismos da frente na inten&ccedil;&atilde;o de dar fim &agrave;s v&iacute;timas e algozes como limita&ccedil;&otilde;es. Viver &eacute; afeto e afeto &eacute; fluxo. Que enxerguemos na esfera consciente nossa humanidade - o melhor, pior e os entremeios que s&atilde;o apresentados cotidianamente.
Em telas, o excesso de imagens gera diferentes sensa&ccedil;&otilde;es que chegam ao cerne dos sentimentos, estes &agrave;s vezes t&atilde;o dif&iacute;ceis de lidar a ponto de gerarem sublima&ccedil;&atilde;o. E nessa estrutura, nos comunicamos atrav&eacute;s do que consumimos mas n&atilde;o nomeamos o que sentimos.
A valoriza&ccedil;&atilde;o da persona p&uacute;blica e a capa de invencibilidade prescrita pelo algoritmo matam o que h&aacute; de mais precioso na humanidade: a vulnerabilidade. Existe uma esp&eacute;cie de magia em se identificar com aquilo que todo mundo sente mas poucas pessoas conseguem expressar.
Para viver n&atilde;o h&aacute; tutorial no YouTube, mesmo que a ferramenta soe como um grande g&ecirc;nio da l&acirc;mpada em momentos de ignor&acirc;ncia. N&atilde;o saber &eacute; divino, achar que as fontes se esgotaram &eacute; um limbo. Limbo &eacute; v&aacute;cuo e v&aacute;cuo &eacute; espa&ccedil;o para o novo.
O come&ccedil;o se configura aqui, n&atilde;o h&aacute; o que conservar. H&aacute; o que transformar, ressignificar e reexistir. H&aacute; o que questionar, enfrentar e resolver - em mim, em n&oacute;s. Para al&eacute;m de n&oacute;s &eacute; uma inven&ccedil;&atilde;o - e chegar&aacute;. Chegaremos. 
&nbsp;

"Em terra de like, se fazer presente &eacute; um ato de amor."&nbsp;

Ator, Roteirista, Diretor e Produtor,&nbsp;<a href="https://www.instagram.com/ffelipe.ribeiro/">Felipe Ribeiro</a>&nbsp;come&ccedil;ou sua carreira em 2015, na novela "Babil&ocirc;nia" (TV GLOBO). Em seguida dedicou-se ao Teatro, onde, entre oito espet&aacute;culos, passeou por m&uacute;ltiplas linguagens. Retornou ao audiovisual em 2019, no docudrama "Vitimas Digitais" (GNT) e fez parte do elenco de "Maldivas" (NETFLIX, 2022). Atualmente estuda Filosofia e abriu a Santa B&aacute;rbara, sua produtora focada em desenvolvimento de conte&uacute;dos e projetos para o audiovisual.&nbsp;

Afeto, Transgressão e Rita Lee

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