Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da Christian Dior e Karishma Swali, diretora dos ateli&ecirc;s Chanakya e da Chanakya School of Craft, falam sobre o rico universo dos trabalhos artesanais, savoir-faire, empoderamento feminino e moda

Para <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/fashion-week/dior-maria-grazia-chiuri-teddy-girls">Maria Grazia Chiuri</a>, diretora criativa da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/o-mundo-magico-de-dior-haute-couture-outono-inverno-2017-18">Christian Dior</a>, o desfile outono 2023 realizado no fim de mar&ccedil;o em Mumbai, na <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/hommes/india-pretende-mudar-de-nome">&Iacute;ndia</a>, teve gostinho especial. Primeiro porque reflete anos de di&aacute;logo criativo entre os ateli&ecirc;s de bordado indiano Chanakya e o savoir-faire parisiense; e, tamb&eacute;m, porque foi o resultado de um enorme trabalho colaborativo entre essas equipes. Nesta entrevista &agrave; L&rsquo;OFFICIEL, a estilista e Karishma Swali, diretora dos ateli&ecirc;s Chanakya e da Chanakya School of Craft &ndash; uma escola que ensina t&eacute;cnicas artesanais para mulheres, uma vez que tradicionalmente no pa&iacute;s apenas homens se dedicam aos bordados &ndash;, falam sobre essa experi&ecirc;ncia, o trabalho dos artes&atilde;os e empoderamento feminino. Juntas, elas compartilham o mesmo gosto pela excel&ecirc;ncia, pelo desejo de preservar o artesanato e a paix&atilde;o pela moda.
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A diretora criativa conta que descobriu os bordados indianos nos anos 1990 e imediatamente ficou maravilhada com a riqueza das t&eacute;cnicas e sua continuidade, al&eacute;m dos materiais utilizados. E, acima de tudo, pelo fato de que n&atilde;o eram trabalhos presos ao passado, mas em constante evolu&ccedil;&atilde;o, permitindo que ela projetasse o futuro. Para a atual cole&ccedil;&atilde;o, pontos milenares surgem em formas geom&eacute;tricas emoldurando paet&ecirc;s e cristais, h&aacute; um caleidosc&oacute;pio de cores na seda tecida e tingida manualmente. Revisitado, o tradicional toile de Jouy ganha ares locais.&nbsp;
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Al&eacute;m do trabalho minucioso dedicado a roupas e acess&oacute;rios pelos artes&atilde;os do ateli&ecirc; Chanakya, as alunas da Chanakya School of Craft se debru&ccedil;aram durante semanas sobre o gigantesco toran. Tamb&eacute;m conhecido como bandana de parede, tem origem hindu e funciona como um portal de boas-vindas para visitantes &ndash; costuma ser usado sobre a porta de entrada das casas. No fashion show, um painel gigantesco cobriu o Portal da &Iacute;ndia, monumento inserido ao cen&aacute;rio e que deu acesso para modelos &agrave; passarela.

Esta n&atilde;o foi a primeira vez que os talentos da Chanakya se mobilizaram para dar vida a um cen&aacute;rio para a Dior. Unindo a expertise artesanal e materiais modernos ao talento de artistas, Maria Grazia tem apresentado extraordin&aacute;rias obras de arte em grande escala. A artista pl&aacute;stica Judy Chicago idealizou a instala&ccedil;&atilde;o Te Female Divine para a alta-costura ver&atilde;o 2020; para a couture inverno 2021/22, Eva Jospin inspirou-se na Sala de Bordados do Pal&aacute;cio Colonna em Roma para criar uma obra de 350 m2. Outra fa&ccedil;anha coletiva: para a alta-costura ver&atilde;o 2022, uma obra em grande tamanho dos artistas indianos Madhvi e Manu Parekh combinou motivos tradicionais com abstra&ccedil;&otilde;es espirituais &ndash; os dois foram, inclusive, homenageados com uma exposi&ccedil;&atilde;o em Mumbai por ocasi&atilde;o do desfile. Os delicados bordados tamb&eacute;m reinterpretaram a obra de Olesia Trofymenko em sua celebra&ccedil;&atilde;o da &aacute;rvore da vida na alta-costura 2022/23, da mesma forma que apareceram no cen&aacute;rio idealizado por Mickalene Tomas para a alta-costura do ver&atilde;o deste ano, misturando textura e luz.
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Para Maria Grazia, a cole&ccedil;&atilde;o pr&ecirc;t-&agrave;-porter outono 2023 &eacute; mais uma oportunidade de tecer novas conex&otilde;es entre tradi&ccedil;&otilde;es ancestrais e inova&ccedil;&atilde;o de ponta. Mais sobre esse interc&acirc;mbio est&aacute; no di&aacute;logo com Karishma que voc&ecirc; confere abaixo.&nbsp;
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L&rsquo;OFFICIEL Maria Grazia e Karishma, voc&ecirc;s trabalham juntas h&aacute; cerca de 30 anos. Como essa sinergia faz fluir os projetos?
MARIA GRAZIA CHIURI Karishma e eu temos uma profunda paix&atilde;o e admira&ccedil;&atilde;o pelas artes manuais. Estamos tamb&eacute;m muito preocupadas com as suas quest&otilde;es contempor&acirc;neas, sobretudo em n&iacute;vel da transmiss&atilde;o, quando se trata de levar este patrim&ocirc;nio a uma gera&ccedil;&atilde;o mais jovem. Fiquei emocionada com o projeto de Karishma de criar a Chanakya School of Craft, e sua ideia de fazer isso para capacitar as mulheres o tornou ainda mais significativo para mim. A educa&ccedil;&atilde;o das mulheres e a salvaguarda das t&eacute;cnicas artesanais s&atilde;o possivelmente duas das mais importantes causas que desejo defender.&nbsp;

KARISHMA SWALI Maria Grazia e eu nos conhecemos h&aacute; quase 30 anos e imediatamente estabelecemos um v&iacute;nculo especial por causa da aprecia&ccedil;&atilde;o e do respeito pelos trabalhos manuais das comunidades ind&iacute;genas, pelo artesanato e suas infinitas possibilidades. Ela n&atilde;o &eacute; apenas uma mentora de longa data, mas tamb&eacute;m uma amiga muito querida. Continuo admirada com sua capacidade de defender, promover e preservar os mestres artes&atilde;os de todo o mundo. &Eacute; um privil&eacute;gio e uma honra aprender com ela todos os dias. Nosso relacionamento com a Dior &eacute; &iacute;ntimo; uma maravilhosa troca de ideias guiada por uma filosofia alinhada, compartilhando o apre&ccedil;o pelo artesanato global e a responsabilidade de preserv&aacute;-lo, reviv&ecirc;-lo e mant&ecirc;-lo sempre relevante para as gera&ccedil;&otilde;es futuras. Vez ap&oacute;s vez, temos a honra de trazer a vis&atilde;o de Maria Grazia Chiuri e da Dior por meio de narrativas artesanais &uacute;nicas.

L&rsquo;O Maria Grazia, esta cole&ccedil;&atilde;o &eacute; uma oportunidade de celebrar seu relacionamento criativo de longo tempo com a &Iacute;ndia. Qual foi a sua primeira impress&atilde;o sobre qualidade do trabalho e dedica&ccedil;&atilde;o desses artes&atilde;os?
MGC Comecei a descobrir os bordados da &Iacute;ndia nos anos 1990. Fiquei maravilhada com a riqueza das t&eacute;cnicas e dos materiais. Mas n&atilde;o era um patrim&ocirc;nio voltado apenas para o passado. Assim que comecei a colaborar com artes&atilde;os indianos, percebi que havia encontrado parceiros que me permitiriam realmente ultrapassar os limites do artesanato, reinvent&aacute;-lo constantemente para o futuro. Acho dif&iacute;cil definir a cultura da moda da &Iacute;ndia em geral, justamente por ser t&atilde;o rica e vasta. Cada regi&atilde;o tem as suas especificidades no que diz respeito ao vestu&aacute;rio e aos t&ecirc;xteis, e &eacute; isso que nos fascina. Nunca terminarei de explorar as in&uacute;meras t&eacute;cnicas e hist&oacute;rias que eles carregam.

L&rsquo;O Com a excel&ecirc;ncia dos ateli&ecirc;s de Paris, por que olhar o trabalho indiano?
MGC A &Iacute;ndia tem sido um pa&iacute;s importante para mim ao longo da minha carreira como designer. &Eacute; um lugar onde conheci colaboradores maravilhosos que me apresentaram a cultura &uacute;nica do artesanato indiano. &Eacute; um lugar onde realmente entendi meu pr&oacute;prio processo criativo e o papel central que o artesanato desempenha nele.

L&rsquo;O Pensando na linguagem est&eacute;tica, como o bordado indiano interage com outros processos artesanais feitos em Paris?&nbsp;
KS Essa troca de savoir-faire em cada est&aacute;gio do design &eacute; representativa da rela&ccedil;&atilde;o indo-francesa. Um dos muitos artesanatos que revivemos coletivamente &eacute; o de uma trama delicada que apresenta fios enrolados tran&ccedil;ados e interligados para formar uma trama intrincada semelhante a uma renda. Al&eacute;m de nossa experi&ecirc;ncia em bordados, tamb&eacute;m tivemos a oportunidade de incorporar diferentes g&ecirc;neros de artesanato, como tecelagem manual e fia&ccedil;&atilde;o manual.&nbsp;

A intera&ccedil;&atilde;o criativa intercultural produziu uma cole&ccedil;&atilde;o que adapta t&eacute;cnicas de materiais tradicionais por meio de uma vis&atilde;o contempor&acirc;nea.&nbsp;

MGC Na hist&oacute;ria da casa Dior, h&aacute; um tecido franc&ecirc;s ic&ocirc;nico, o toile de Jouy, que foi usado notavelmente para decorar a pri meira loja Dior na d&eacute;cada de 1940. A hist&oacute;ria deste tecido &eacute; interessante porque, na verdade era uma resposta francesa ao popular algod&atilde;o estampado indiano, no s&eacute;culo 18. Partindo dessa importante refer&ecirc;ncia para a casa Dior, revisitamos essa estampa e, no lugar das flores e florestas da Fran&ccedil;a, colocamos a fauna e a flora da &Iacute;ndia, com elementos como flores de l&oacute;tus, pav&otilde;es ou tigres. Achei que era uma forma significativa de refletir sobre as influ&ecirc;ncias m&uacute;tuas e sobre a forma como os padr&otilde;es e tecidos viajam entre as culturas.

L&rsquo;O Na &Iacute;ndia, o bordado &eacute; geralmente um trabalho mascu - lino. Qual a import&acirc;ncia de ter mulheres nesse contexto?&nbsp;
KS Para mim, artesanato, cultura e a cria&ccedil;&atilde;o de uma nova autonomia para as mulheres sempre estiveram interligados. Na &Iacute;ndia rural, a maioria das mulheres depende economicamente de seus parceiros homens. Embora o casal possa ter pap&eacute;is semelhantes no bem-estar de sua fam&iacute;lia, suas contribui&ccedil;&otilde;es permanecem relativamente desconhecidas. Portanto, era importante proporcionar &agrave;s mulheres um ambiente inclusivo com oportunidades iguais por meio do desenvolvimento de habilidades e aprendizado multidimensional focado em artes e of&iacute;cios.&nbsp;

MGC No meu pa&iacute;s, na It&aacute;lia, mas tamb&eacute;m na Fran&ccedil;a, o bordado sempre foi considerado um trabalho dom&eacute;stico feminino, algo de certa forma negligenciado. Ent&atilde;o, ver como o legado desse of&iacute;cio pode ser perpetuado pelas mulheres e como elas podem se tornar profissionais e independentes financeiramente por meio desse conhecimento &eacute; realmente inspirador para mim.

L&rsquo;O Como surgiu a ideia de abrir espa&ccedil;os para as mulheres na Chanakya School of Craft?&nbsp;
KS Entendo que o artesanato representa a uni&atilde;o de valores, comunidade, cultura, tradi&ccedil;&atilde;o e, o mais importante, um alinhamento do eu por meio da express&atilde;o criativa. A Chanakya School of Craft &eacute; a primeira desse tipo. A escola e a funda&ccedil;&atilde;o sem fins lucrativos se dedicam a proporcionar autonomia para as mulheres por meio do artesanato e da cultura. O objetivo da escola &eacute; criar uma plataforma de aprendizado multidimensional, focada nas artes e of&iacute;cios, ao mesmo tempo que oferece oportunidades iguais a uma espinha dorsal muitas vezes ignorada de nossas comunidades: as mulheres.

L&rsquo;O Karishma, pensando na cultura e na sociedade indianas, tem sido diferente ou at&eacute; desafiador ensinar t&eacute;cnicas manuais para mulheres?&nbsp;
KS A escola ensina mais de 150 bordados manuais, tecelagem manual e t&eacute;cnicas de macram&ecirc; por meio de um curr&iacute;culo hol&iacute;stico ancorado nas vozes e vidas de figuras femininas hist&oacute;ricas. Al&eacute;m de oferecer um curr&iacute;culo multidimensional que inclui um treinamento imersivo em of&iacute;cios singulares abrangendo mais de 300 t&eacute;cnicas, a escola tamb&eacute;m oferece m&oacute;dulos de ensino sobre perspic&aacute;cia nos neg&oacute;cios, finan&ccedil;as b&aacute;sicas e orienta&ccedil;&atilde;o para iniciar novos empreendimentos; mulheres de todas as comunidades agora podem criar sua arte com seguran&ccedil;a, transformando n&atilde;o apenas suas pr&oacute;prias vidas, mas tamb&eacute;m a vida das pessoas ao seu redor. A escola j&aacute; ensinou mais de mil mulheres at&eacute; hoje, de todas as idades e origens socioecon&ocirc;micas, formando uma forte comunidade de mulheres qualificadas e aut&ocirc;nomas. Enquanto algumas optam por iniciar seu pr&oacute;prio neg&oacute;cio, outras encontram emprego nos Ateli&ecirc;s Chanakya e colaboram criativamente com os mestres-artes&atilde;os.
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&ldquo;Eu queria QUE UMA GRANDE VARIEDADE DE t&eacute;cnicas FOSSE REPRESENTADA NA COLE&Ccedil;&Atilde;O, PARA SUGERIR A RIQUEZA DAS culturas t&ecirc;xteis PERTENCENTES &Agrave; &Iacute;NDIA&rdquo;
MARIA GRAZIA CHIURI

L&rsquo;O Como a Dior apoia a escola?&nbsp;
MGC Estou profundamente orgulhosa e emocionada que as muitas conversas que tive ao longo dos anos com Karishma a inspiraram a criar este projeto incr&iacute;vel. &Eacute; uma honra e um grande orgulho poder ter acompanhado a realiza&ccedil;&atilde;o de tal vis&atilde;o e continuar a faz&ecirc;-lo em muitos projetos juntos. A Chanakya School of Craft trabalha nas cenografias dos desfiles e, nos &uacute;ltimos anos, tem sido uma oportunidade para as alunas colaborarem com grandes artistas mulheres, como Judy Chicago [alta-costura ver&atilde;o 2020] ou mais recentemente Mickalene Thomas [alta-costura ver&atilde;o 2023].&nbsp;
KS Somos sempre inspirados pela forma como a Maison Dior continua investindo em artesanato, alta-costura, cultura e empoderamento feminino. Atrav&eacute;s de um di&aacute;logo contemplativo com Dior e Maria Grazia Chiuri, artistas, criadores e artes&atilde;os, temos a oportunidade de explorar as infinitas possibilidades do artesanato e da alta-costura &ndash; de fato, um processo profundamente gratificante para n&oacute;s. Esse encontro de mentes n&atilde;o apenas nos ajuda a elevar consistentemente nossos padr&otilde;es, mas tamb&eacute;m a praticar o of&iacute;cio com um ouvido no passado e um olho no futuro.
L&rsquo;O Para esta cole&ccedil;&atilde;o de outono, de onde come&ccedil;ou o desenvolvimento da cole&ccedil;&atilde;o, do design ou dos tecidos e artesanato?&nbsp;
MGC Esta cole&ccedil;&atilde;o &eacute; o resultado de um longo processo criativo, que come&ccedil;ou muito antes da exibi&ccedil;&atilde;o em Mumbai. Ent&atilde;o, de certa forma, n&atilde;o foi tanto o resultado de alguns meses, mas certamente reflete anos de di&aacute;logo criativo. Eu queria que uma grande variedade de t&eacute;cnicas fosse representada na cole&ccedil;&atilde;o, para sugerir a riqueza das culturas t&ecirc;xteis pertencentes &agrave; &Iacute;ndia: inclu&iacute;mos diferentes t&eacute;cnicas de bordado, como zardozi, appliqu&eacute; e mirrorwork. Mas al&eacute;m do bordado, tamb&eacute;m concebemos um desenho de estamparia em bloco sobre seda e colaboramos com artes&atilde;os do Sul para produzir uma s&eacute;rie de sedas tecidas como as que s&atilde;o usadas para saris. Foi uma forma humilde de mapear parte da diversidade de gestos e tradi&ccedil;&otilde;es que formam a cultura indiana.

L&rsquo;O Karishma, na sua opini&atilde;o, qual foi o artesanato mais complexo desta cole&ccedil;&atilde;o produzido pelo ateli&ecirc; Chanakya?&nbsp;
KS Com esse di&aacute;logo, as linhas entre arte e artesanato s&atilde;o realmente sutis. Varia&ccedil;&otilde;es contempor&acirc;neas de artesanato, como aari [bordado cujo ponto &eacute; criado por um la&ccedil;o na linha], appliqu&eacute; [aplica&ccedil;&atilde;o tridimensional ou em patchwork de peda&ccedil;os de tecido], zardozi [bordado complexo feito com fios de metal ou mesmo fios de ouro e prata], block printing [impress&atilde;o manual feita com blocos de madeira] e mirrorwork [bordado com espelhos], s&atilde;o usadas extensivamente em toda a cole&ccedil;&atilde;o, capturando o esp&iacute;rito de renascimento e inova&ccedil;&atilde;o de v&aacute;rias maneiras. Os bordados, por exemplo, tamb&eacute;m apresentam releituras de pinturas multicoloridas &ndash; que adornam m&oacute;veis e ve&iacute;culos &ndash; distantes dos tradicionais bordados aari, que geralmente usam cores suaves e contrastantes. H&aacute; o Jardin Indien Toile de Jouy estampado com tigres, pav&otilde;es e figueiras-da-&iacute;ndia. Espelhos e micromi&ccedil;angas, ricas bordas douradas e rendas de filigrana cumprem o desejo de nossos artes&atilde;os e da Maison Dior de fazer algo novo a servi&ccedil;o da moda moderna e us&aacute;vel.
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L&rsquo;O Maria Grazia, o show em Mumbai trouxe uma emo&ccedil;&atilde;o diferente dos outros desfiles que voc&ecirc; apresentou at&eacute; agora?&nbsp;
MGC Esta foi uma das experi&ecirc;ncias mais emocionantes para mim como diretora criativa, porque o show n&atilde;o era apenas uma performance criativa ou a exibi&ccedil;&atilde;o de arte visual em todas as suas formas e m&iacute;dias. Foi realmente uma reuni&atilde;o coletiva, com o objetivo de expressar gratid&atilde;o. Espero que essa energia tenha sido sentida e que tenha demonstrado ao p&uacute;blico a beleza de trabalharmos juntos. Esse desfile foi o resultado de um trabalho colaborativo em v&aacute;rios n&iacute;veis. E &eacute; possivelmente o que o tornou muito mais poderoso. Eu realmente senti que compartilhei seu sucesso, em primeiro lugar, com os muitos artes&atilde;os que me ajudaram a torn&aacute;-lo vivo.

L&rsquo;O Para esta cole&ccedil;&atilde;o voc&ecirc; pesquisou no arquivo de Marc Bohan [diretor criativo da Dior entre 1961 e 1989]. O que foi mais emocionante nesta pesquisa?&nbsp;
MGC Fiquei muito emocionada e inspirada pelas fotografias que documentam esta viagem [Marc Bohan viajou para a &Iacute;ndia em abril de 1962 e fez desfiles em Mumbai e D&eacute;lhi, iniciando um di&aacute;logo entre Fran&ccedil;a e &Iacute;ndia] e que hoje se encontram nos arquivos da Dior. Elas capturam o contexto colaborativo em que os dois desfiles foram produzidos com uma equipe local, e eu senti que era um precedente muito significativo para se ter em mente quando comecei a trabalhar neste projeto.

L&rsquo;O O que voc&ecirc;s gostariam de destacar nesta cole&ccedil;&atilde;o de outono? Quero dizer, o que mais a emociona nesta cole&ccedil;&atilde;o? Pode ser um look ou um trabalho &agrave; m&atilde;o, por exemplo&hellip;
MGC Esta &eacute; uma pergunta dif&iacute;cil de responder, mas devo dizer que esta cole&ccedil;&atilde;o que desenhei de forma verdadeiramente colaborativa, desde a paleta de cores at&eacute; o bordado, tem uma beleza especial porque &eacute;, precisamente, a manifesta&ccedil;&atilde;o tang&iacute;vel deste di&aacute;logo.&nbsp;

KS Para o show, as artes&atilde;s da Chanakya School of Craft criaram uma instala&ccedil;&atilde;o de arte imersiva em grande escala na forma de um toran: uma porta ornamental tradicional que data do s&eacute;culo 1o d.C. e &eacute; usada para receber convidados. Com o tempo, as mulheres na &Iacute;ndia criaram torans para suas casas, decorando tecidos locais por meio de t&eacute;cnicas de bordado e patchwork. Para esta instala&ccedil;&atilde;o, as artes&atilde;s da Chanakya School of Craft criaram sua pr&oacute;pria pe&ccedil;a como parte de uma obra de arte maior formando um toran, para emoldurar a entrada do Portal da &Iacute;ndia. Este &eacute; um s&iacute;mbolo importante que representa o poder da comunidade, uma colabora&ccedil;&atilde;o entre culturas para receber nossos amigos da Dior e de todo o mundo, destacando o poder do artesanato e o virtuosismo do artesanato indiano.

L&rsquo;O Quando o artesanato em tecidos e a moda se tornaram uma paix&atilde;o para voc&ecirc;s?&nbsp;
MGC A moda sempre foi minha escolha, minha paix&atilde;o. Ela ajuda a me expressar, a me compreender. &Eacute; a minha maneira de analisar as coisas. Sempre me interessou pelo fato de unir diferentes aspectos do &ldquo;imaginar&rdquo; e do &ldquo;fazer&rdquo;. E que &eacute; uma esp&eacute;cie de lugar onde as coisas acontecem. Como todos devem saber, trabalhei muito para chegar onde estou agora, o que significa que aprendi muito, mesmo ap&oacute;s o t&eacute;rmino dos meus estudos. E hoje, em um cargo importante que me enche de orgulho, continuo fascinada pela moda. A moda &eacute; uma disciplina, um instrumento central para o foco na pr&oacute;pria identidade e, acima de tudo, uma for&ccedil;a ativa para experimentar a modernidade de forma consciente. Eu acredito na alta-costura. Acredito no artesanato: est&aacute; na minha cultura e na minha heran&ccedil;a. O savoir-faire e o artesanato s&atilde;o requisitos fundamentais neste processo de beleza e significado.&nbsp;
 KS Quando crian&ccedil;a, fui inspirada pelos valores espirituais de meus pais e pelo profundo apre&ccedil;o pelo artesanato; nossa casa era repleta de conversas sobre arte, cultura e o legado artesanal da &Iacute;ndia. Quando meu pai fundou a Chanakya [o ateli&ecirc;] em 1986, sua vis&atilde;o era a de compartilhar o melhor artesanato da &Iacute;ndia com o mundo; ele o fez reunindo mestres artes&atilde;os da 13&ordf; e 14&ordf; gera&ccedil;&otilde;es em Mumbai para formar um coletivo de artesanato. Consideramo-nos extremamente sortudos por trabalhar em estreita colabora&ccedil;&atilde;o com eles, inovando atrav&eacute;s de diferentes g&ecirc;neros de artesanato para criar uma oferta &uacute;nica a cada temporada em alta-costura, pr&ecirc;t-&agrave;-porter, acess&oacute;rios e arte. Em minha jornada de 25 anos, tive o prazer de trabalhar com artistas, curadores e figuras p&uacute;blicas importantes para destacar as diversas tradi&ccedil;&otilde;es da &Iacute;ndia por meio da excel&ecirc;ncia do artesanato.

Maria Grazia Chiuri e Karishma Swali falam sobre moda artesanal

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