Marcella Franklin em entrevista para L&rsquo;Officiel fala sobre sua marca Haight, que est&aacute; prestes a completar dez anos de praia e de moda

Nascida quase sem querer, a Haight est&aacute; prestes a completar dez anos de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/summer-is-here-4-tendencias-de-beachwear-para-o-verao-24">praia</a> &mdash; e de moda. Criada por Marcella Franklin como um projeto piloto para matar vontades est&eacute;ticas pr&oacute;prias, o <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/beachwear-4-tendencias-de-moda-praia-para-arrasar-no-verao">beachwear</a> mezzo minimalista mezzo vintage da marca veio atravessando bolhas ao longo dessa d&eacute;cada. Das modernas cariocas que estavam l&aacute; quando a Haight ainda nem tinha nome, passando pelas insiders e chegando &agrave;s mulheres interessadas em cria&ccedil;&otilde;es contempor&acirc;neas para usar sob o sol, do Brasil e de fora &ndash; foi de l&aacute; que veio a &uacute;ltima evolu&ccedil;&atilde;o da casa: uma collab feita a quatro m&atilde;os com a modelo francesa <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/a-modelo-tina-kunakey-tem-os-melhores-looks-e-podemos-provar">Tina Kunakey</a>, que era consumidora e se tornou amiga. Mais do que uma garota-propaganda bonita, a parceria rendeu democratiza&ccedil;&atilde;o maior das cria&ccedil;&otilde;es da Haight; atendendo mulheres cujos corpos n&atilde;o se bastam nos tamanhos padr&otilde;es de mercado. Um movimento esperto (e necess&aacute;rio) da estilista discreta, que prefere louvar o trabalho coletivo (e feminino) da sua equipe a guardar os louros todos nos el&aacute;sticos da pr&oacute;pria hotpant. L&rsquo;OFFICIEL conversou com Marcella, diretamente do Jo&aacute;, no Rio de Janeiro, sobre os caminhos de ontem e de hoje.

L&rsquo;OFFICIEL Como foi esse match da Haight com Tina Kunakey?&nbsp;
MARCELLA FRANKLIN Tina conheceu a marca assim que abrimos a primeira loja, no Leblon. Entrou sem querer, porque se interessou pelo projeto de arquitetura, e acabou comprando. Na &eacute;poca, era casada com Vincent Cassel que fez uma foto dela na loja que viralizou &mdash; e gerou uma divulga&ccedil;&atilde;o &oacute;tima. Ela se tornou entusiasta da Haight, mesmo sem termos contato &mdash; consumidora real, dizia que a qualidade e a est&eacute;tica eram muito diferentes do que via por a&iacute;; e &eacute; uma pessoa que tem contato com marcas do mundo todo. Sempre elogiava, fazia posts, superfofa. At&eacute; que, numa vinda dela ao Rio, em 2021, mandou uma mensagem falando que a cole&ccedil;&atilde;o estava linda, mas muitos tops n&atilde;o funcionavam pois ela tem o busto muito grande. Tina tem um tamanho de busto GG mas, se medir a circunfer&ecirc;ncia das costas, ela &eacute; PP. Na &eacute;poca, n&atilde;o t&iacute;nhamos produtos regul&aacute;veis nas costas &mdash; ent&atilde;o as pe&ccedil;as GG, que sustentavam seus seios, ficavam largas atr&aacute;s.

L&rsquo;O A ideia de collab veio de que lado?&nbsp;
MF Ela j&aacute; chegou sugerindo: vamos fazer uma colabora&ccedil;&atilde;o porque eu quero poder vestir toda a cole&ccedil;&atilde;o. Achamos incr&iacute;vel receber essa mensagem de forma t&atilde;o espont&acirc;nea, ainda mais pelo fato de ela j&aacute; ter essa conex&atilde;o com a Haight que n&atilde;o era nova. Foi uma &oacute;tima coincid&ecirc;ncia pois, em paralelo, est&aacute;vamos desenvolvendo um projeto com a inten&ccedil;&atilde;o de atender a perfis de mulheres que ainda n&atilde;o consegu&iacute;amos. Ao longo dos &uacute;ltimos dois anos, fizemos uma gradua&ccedil;&atilde;o de tamanhos pr&oacute;pria, diferente da que o mercado oferece. A gradua&ccedil;&atilde;o padr&atilde;o aumenta dois cent&iacute;metros, de frente e de costas, entre um tamanho e outro &mdash; e n&atilde;o necessariamente isso &eacute; algo que funciona na pr&aacute;tica. Revisamos todo o nosso processo para adaptar os produtos para que, de fato, as mulheres se sentissem confort&aacute;veis. N&atilde;o &eacute; s&oacute; aumentar as medidas, &eacute; preciso entender se aquele modelo realmente est&aacute; sustentando, se est&aacute; seguro. E o mercado opera, quase que unanimemente, em torno do tamanho menor &mdash; as modelos de prova e de showroom, os cabides, &eacute; tudo P. Ent&atilde;o acaba que o desenvolvimento acontece num corpo P e, n&atilde;o necessariamente, aquele produto vai fazer sentido num corpo maior, n&eacute;? Internamente, ao longo desses dois anos, come&ccedil;amos a fazer provas tanto no P quanto no GG para enten - der se nossa gradua&ccedil;&atilde;o fazia sentido, para fazer altera&ccedil;&otilde;es de modelagens que s&atilde;o espec&iacute;ficas para o conforto de tamanhos maiores &mdash; seja levar uma al&ccedil;a mais larga, um el&aacute;stico com gramatura maior para dar sustenta&ccedil;&atilde;o. Ent&atilde;o j&aacute; t&iacute;nhamos esse processo interno quando a Tina chegou, foi uma combina&ccedil;&atilde;o 100% feliz. Ela participou ativamente de toda a colabora&ccedil;&atilde;o, veio para o Brasil tr&ecirc;s vezes e discutimos tudo juntas &mdash; da prova de roupa &agrave; cartela de cores e de como seria fotografado. Queria que ela fosse diretora criativa do projeto mesmo, n&atilde;o s&oacute; uma garota propaganda. Acho que uma das coisas mais especiais foi entender que ela estava alinhada a muita coisa que a Haight acredita. Documentamos todos esses encontros e fizemos um minidoc para mostrar um pouco do processo. Em um trecho, ela diz que algo que chamou sua aten&ccedil;&atilde;o foi ver que a marca est&aacute; falando sobre mulheres que amam mulheres. Ficamos felizes em perceber que ela conseguiu identificar isso, esse nosso lado de valores, mesmo com uma interface t&atilde;o pequena, s&oacute; de consumidora da Haight. Tudo partiu de uma verdade, tanto da marca quanto dela.

Modelo da última coleção da Haight: moda para a praia, mas não só - Foto:  Mateus Rubim.

L&rsquo;O &Eacute; importante esse envolvimento de algu&eacute;m com uma quest&atilde;o real, n&atilde;o s&oacute; criar para uma mulher metaf&oacute;rica.&nbsp;
MF Com certeza. E &eacute; primordial que isso aconte&ccedil;a. Uma coisa que converso muito com meu time &eacute; isso: ainda que a gente desenhe algo pensando em mulheres que t&ecirc;m 60 ou 70 anos, s&oacute; vou saber se aquilo est&aacute; realmente funcionando se tivermos uma mulher com esse perfil provando a pe&ccedil;a, validando e dando sua opini&atilde;o. Por isso esse projeto para trazer mulheres que t&ecirc;m perfis espec&iacute;ficos para colaborar com esses feedbacks, passar sensa&ccedil;&otilde;es que nos ajudem a aprimorar.

L&rsquo;O As discuss&otilde;es com Tina mostraram algo que voc&ecirc; n&atilde;o tinha pensado ainda? 
MF Algumas escolhas de modelagem at&eacute; j&aacute; prev&iacute;amos. Porque, como falei, n&atilde;o &eacute; s&oacute; aumentar a gradua&ccedil;&atilde;o: voc&ecirc; tem que entender a volumetria do busto. Ent&atilde;o, temos que aumentar o &acirc;ngulo da ta&ccedil;a, a cobertura, o el&aacute;stico. Para essa colabora&ccedil;&atilde;o, inclu&iacute;mos tr&ecirc;s novos tamanhos de ta&ccedil;a que n&atilde;o t&iacute;nhamos antes. Um tamanho DDD, que tem uma base de tamanho G mas com uma volumetria maior de busto; um DDDD, com um aro GG e uma profundidade de ta&ccedil;a maior, e o tamanho H, que &eacute; como se fosse um XXGG, tamb&eacute;m com uma volumetria aumentada. Esses, assim como os tamanhos originais da marca, do PP ao GG, todos t&ecirc;m regulagem na circunfer&ecirc;ncia das costas. A inten&ccedil;&atilde;o &eacute; permitir que mulheres que tenham medidas diferentes de ta&ccedil;a e costas possam fazer suas combina&ccedil;&otilde;es para que a pe&ccedil;a se encaixe nas propor&ccedil;&otilde;es que elas t&ecirc;m.

L&rsquo;O Voc&ecirc;s tamb&eacute;m apresentaram essa parceria com Tina em Paris. Como est&aacute; a Haight fora do Brasil?&nbsp;
MF Come&ccedil;amos a exportar em 2017, com um showroom em Nova York. Ent&atilde;o j&aacute; temos uma certa presen&ccedil;a no mercado americano e em algumas das grandes multimarcas digitais, que vendem para o mundo todo. J&aacute; estamos em Portugal, outros lugares na Europa, at&eacute; na &Aacute;sia, mas o grosso da exporta&ccedil;&atilde;o ainda &eacute; EUA. Por outro lado, sempre achei que nosso produto tem um fit maior com o mercado europeu do que com o americano. Estamos trabalhando isso em paralelo, agora. Este ano, fizemos duas feiras e estamos explorando esse novo territ&oacute;rio.

L&rsquo;O Como &eacute; a percep&ccedil;&atilde;o da Haight como marca brasileira nesses mercados? Pois &eacute; um produto com uma cara que, se voc&ecirc; tirar o cen&aacute;rio carioca, poderia ter vindo de muitos lugares.&nbsp;
MF H&aacute; um estere&oacute;tipo de imagem, do que se espera de uma marca de biqu&iacute;ni brasileira &mdash; e carioca. Mas sempre fomos por um caminho diferente desse olhar. Lembro que na primeira cole&ccedil;&atilde;o, que n&atilde;o tinha estampa, de cores s&oacute;brias, com neoprene dublado e cortado a laser, eu jurava que n&atilde;o ia vender nada. N&atilde;o sabia se havia essa cliente que gostaria do que eu gosto, desse produto diferente para o universo da praia. E deu sold out em duas semanas. O que costumo dizer &eacute; que o que a Haight tem de mais carioca nem s&atilde;o as escolhas de produtos, mas justamente o tr&acirc;nsito entre praia e cidade. No Rio, as mulheres t&ecirc;m esse costume de sair da praia, almo&ccedil;ar em algum lugar, passar num samba no p&ocirc;r do sol e, quando v&ecirc;, acabou numa festa de rua. E com uma roupa que est&aacute; bem para todas essas ocasi&otilde;es. No in&iacute;cio da marca, as clientes usavam nossos tops e mai&ocirc;s at&eacute; mais &agrave; noite do que na praia. Ent&atilde;o, mais at&eacute; do que as escolhas est&eacute;ticas, h&aacute; esse comportamento cultural carioca embutido. A cartela de cores s&oacute;bria, essa atemporalidade que &eacute; importante para o produto, faz com que algumas pessoas achem que a marca &eacute; de S&atilde;o Paulo. J&aacute; vi mulheres gringas que visitaram a loja, j&aacute; conheciam a Haight pelo Net-a-Porter e achavam que era uma marca australiana. N&atilde;o somos automaticamente associadas ao Brasil. Mas temos muito orgulho em ser uma marca brasileira. Contamos sempre essa hist&oacute;ria, de que nossa produ&ccedil;&atilde;o &eacute; 100% nacional, com mat&eacute;rias-primas locais. E fazemos todas as campanhas principais pelo pa&iacute;s, exatamente com a inten&ccedil;&atilde;o de mostrar a diversidade natural que temos &mdash; para al&eacute;m do Rio de Janeiro que j&aacute; conhecem. J&aacute; fizemos nos Len&ccedil;&oacute;is Maranhenses, no interior de Minas, no Lajedo do Pai Mateus na Para&iacute;ba&hellip; v&aacute;rios lugares com naturezas diferentes e brasileiras que gostamos de retratar. E tem algo na modelagem que as pessoas de fora do pa&iacute;s conseguem identificar que h&aacute; algo de Brasil ali.

L&rsquo;O A Haight vai completar dez anos em 2025. Como v&ecirc; esse balan&ccedil;o?&nbsp;
MF Nossa, eu n&atilde;o conseguiria imaginar que viver&iacute;amos tudo o que aconteceu. &Agrave;s vezes, parece que faz muito mais de dez anos. Sendo muito transparente, no in&iacute;cio eu n&atilde;o queria abrir uma marca de jeito nenhum. Eu tinha passado por algumas marcas pequenas e j&aacute; sabia como era o rol&ecirc; de empreender no Brasil. &Eacute; uma escolha de vida, n&atilde;o de profiss&atilde;o &mdash; &eacute; algo que ou vira sua vida ou n&atilde;o tem como dar os passos necess&aacute;rios se voc&ecirc; n&atilde;o estiver muito engajada. J&aacute; tinha visto tanta gente talentos&iacute;ssima e marcas de grande potencial que acabavam morrendo na praia ou perdendo o que possu&iacute;am de mais valioso pois n&atilde;o tinham o lado do business muito bem organizado. Sou obviamente apaixonada pelo que fa&ccedil;o, mas, por tudo isso, n&atilde;o tinha esse sonho de abrir uma marca. O que aconteceu foi que, quando sa&iacute; da Ausl&auml;nder, recebi propostas de empresas com produtos que eu n&atilde;o me identificava tanto. Ao mesmo tempo, tinha uma cole&ccedil;&atilde;o de beachwear desenhada que n&atilde;o havia nem apresentado ainda. Ent&atilde;o, a coloquei de p&eacute; por mim mesma, para ter no portf&oacute;lio enquanto pensava nos pr&oacute;ximos passos. Era um piloto. Da&iacute; os meninos da Void, que tinha acabado de ser inaugurada no Rio, souberam e logo quiseram vender. Eu concordei, mas deixando claro que n&atilde;o era uma marca, n&atilde;o ia ter continuidade &mdash; nem nome tinha, a tag era preta com uma linha branca. Pois vendeu tudo em duas semanas, foi uma surpresa muito positiva que eu tive. E meu s&oacute;cio hoje, que j&aacute; vinha de um background de mercado financeiro e era meu amigo havia 15 anos, quando viu que o produto funcionava, me convenceu que era hora de arriscar e testar. Foi assim que eu comecei, s&oacute; porque sabia que teria um bra&ccedil;o que me complementaria com o lado do business de forma redondinha, desde o dia zero.

L&rsquo;O E havia uma demanda, n&atilde;o &eacute;?&nbsp;
MF Sim, que me surpreendeu muito. Come&ccedil;amos a vender em algumas multimarcas que surgiram na &eacute;poca, com curadoria voltadas a novos designers. Era uma produ&ccedil;&atilde;o pequena e por isso eu n&atilde;o conseguia ainda fazer atacado, entrar na linha de produ&ccedil;&atilde;o das f&aacute;bricas com velocidade. Mas fomos ganhando quantidade, encorpando. Em 2015, a empresa inteira era eu e uma estagi&aacute;ria. Dois anos depois, come&ccedil;amos no atacado e fizemos uma primeira tentativa de mercado internacional. A partir da&iacute; come&ccedil;amos a crescer na exporta&ccedil;&atilde;o e no Brasil. Abrimos a primeira loja no Leblon, em 2018, e em S&atilde;o Paulo, em 2019 &ndash; na Melo Alves, que infelizmente tivemos que fechar agora pois o im&oacute;vel foi vendido para construir um pr&eacute;dio. Entre 2021 e 2022 abrimos no Rio Design Barra, no Shopping Cidade Jardim e uma pop-up na Fazenda Boa Vista. E agora estamos com uma loja provis&oacute;ria nos Jardins enquanto pensamos no projeto permanente de uma loja nova.

L&rsquo;O Foi em 2017 que voc&ecirc; percebeu que a Haight estava realmente acontecendo?&nbsp;
MF Acho que sim. Foi por ali que vi que existia esse olhar de que era um produto muito diferente do que o mercado oferecia, no Brasil e fora. Foi importante come&ccedil;ar a exportar para entender essa for&ccedil;a. Lembro que, quando nossa representante levou a Haight para a primeira feira em Nova York, j&aacute; avisou que normalmente n&atilde;o ter&iacute;amos pedidos de cara &mdash; pois as lojas acompanham as marcas por algumas temporadas antes de comprar realmente. Mas j&aacute; fechamos pedidos grandes logo na estreia, o que foi bem legal. Gerou at&eacute; um problema bom, pois n&atilde;o consegu&iacute;amos espa&ccedil;o na f&aacute;brica para produzir. Demos um jeito e vimos que havia esse potencial internacional bem forte.

L&rsquo;O Criativamente falando, em que momento voc&ecirc; percebeu que essa hist&oacute;ria de minimalista cabia num ambiente de praia?&nbsp;
MF Eu sempre fui apaixonada por pe&ccedil;as vintage, ent&atilde;o vivia em brech&oacute;s. E nunca fui uma pessoa de estampas e cores e babados, enjoava muito r&aacute;pido de estampas, preferia pe&ccedil;as com cores mais s&oacute;brias e minimalistas. Em paralelo, como estilista, sempre achei interessante juntar signos diferentes no mesmo produto &mdash; pegar um shape que &eacute; super 1970 e fazer num material tecnol&oacute;gico ou mesclar tric&ocirc; e n&aacute;ilon no mesmo produto, sempre gostei de brincar com esses extremos. Antes da Haight j&aacute; gostava de propor modelagens ou mat&eacute;rias-primas mais modernas com uma pegada vintage, sempre foi meu tipo de produto. Lembro que eu ia &agrave; praia com mai&ocirc;s que comprava em brech&oacute;s ou com hotpants que eu mesma fazia, numa &eacute;poca que as lojas de biqu&iacute;ni ainda n&atilde;o vendiam hotpants, e as minhas amigas falavam &ldquo;mas que calcinha de v&oacute; &eacute; essa, Marcella?&rdquo; &mdash; e eu l&aacute;, achando o m&aacute;ximo. &Eacute; o tipo de produto que sempre gostei e n&atilde;o encontrava no mercado, ent&atilde;o houve essa inten&ccedil;&atilde;o de colocar para fora e entender se existiam outras pessoas que iriam curtir tamb&eacute;m.

"O importante, PARA MIM, &Eacute; SABER QUE O TIME HOJE &Eacute; 80% formado POR mulheres. ESSA MENSAGEM ACABA SENDO MUITO MAIS RELEVANTE DO QUE TER UM destaque COMO MARCA DE MODA PRAIA.&rdquo;

L&rsquo;O Voc&ecirc; conquistou nesses dez anos um posto de destaque na moda praia nacional feita de modo interessante. Como se enxerga nesse cen&aacute;rio?&nbsp;
MF Se me distancio, vejo um grupo de mulheres que est&aacute; muito a fim de fazer as coisas acontecerem, de falar sobre valores que s&atilde;o importantes para a marca. Claro que levamos muito a s&eacute;rio o crit&eacute;rio de qualidade de produto, mas h&aacute; esse coletivo feminino que faz tudo acontecer. N&atilde;o fa&ccedil;o isso tudo sozinha, tenho muito orgulho do time. &Eacute; muito menos sobre a diretora criativa que fala sozinha sobre a Haight, n&atilde;o sou essa personagem &mdash; nunca gostei muito de foto, de aparecer. O importante, para mim, &eacute; saber que o time hoje &eacute; 80% formado por mulheres. Essa mensagem acaba sendo muito mais relevante do que ter um destaque como marca de moda praia. Isso aparece em todos os lados, inclusive nas lojas. Sou apaixonada por arquitetura e sempre quis que as lojas tivessem projetos que falassem sobre o universo da Haight, mas que fossem um pouco diferentes do que uma loja costuma ser, que trouxessem algumas provoca&ccedil;&otilde;es. Pensando sobre isso, e juntando com o que quer&iacute;amos fazer, os pequenos movimentos sobre o que acreditamos, definimos que cada loja seria assinada por uma arquiteta diferente. Pois o universo da arquitetura tem infinitas mulheres talentos&iacute;ssimas, mas ainda &eacute; muito dominado por homens. &Eacute; superlegal conseguir realizar esses sonhos, trazer mulheres que admiramos para colaborar. Um dos maiores prazeres, enquanto marca, &eacute; conseguir estar em contato com elas e ter essas trocas. Realizar projetos que tenham uma jornada prazerosa, n&atilde;o s&oacute; o objetivo final.

L&rsquo;O Ao mesmo tempo, por ser uma marca de moda praia, voc&ecirc;s lidam com quest&otilde;es delicadas de inseguran&ccedil;a e autoimagem das consumidoras.&nbsp;
MF Sabemos que o mercado imp&otilde;e um padr&atilde;o espec&iacute;fico como a &uacute;nica possibilidade de beleza. Mas h&aacute; uma pluralidade infinita de mulheres, cada uma com sua singularidade. Ent&atilde;o tentamos, de alguma maneira, fazer com que o produto ajude-as a se sentirem bem com os pr&oacute;prios corpos. Ainda temos desafios, sabemos que h&aacute; perfis que a Haight ainda n&atilde;o atende bem, mas estamos no caminho. Para n&oacute;s, o que h&aacute; de mais incr&iacute;vel &eacute; receber mensagens de mulheres falando que se sentiram bem na praia pela primeira vez na vida. Isso &eacute; muito valioso, sabe? Muito especial. O time de vendas tem um treinamento no sentido de encorajar as clientes a provarem produtos que elas n&atilde;o vestiriam espontaneamente, exatamente por essas inseguran&ccedil;as que o pr&oacute;prio mercado gera &mdash; esse imagin&aacute;rio de que algumas pe&ccedil;as s&atilde;o apenas para mulheres supermagras. Ent&atilde;o, para v&aacute;rias clientes, dar esse primeiro passo para provar uma pe&ccedil;a com cava mais alta, por exemplo, n&atilde;o &eacute; f&aacute;cil. E muitas vezes elas se surpreendem e percebem que fica at&eacute; melhor do que o biqu&iacute;ni que estavam acostumadas; isso acontece com frequ&ecirc;ncia. Assim como, em outros momentos, n&atilde;o curtem mesmo &mdash; e tudo certo. A partir da&iacute;, a loja tenta entender com ela o que de fato est&aacute; incomodando. Esse feedback volta para o time de cria&ccedil;&atilde;o, temos uma reuni&atilde;o mensal entre estilo e vendas, para aprimorar os produtos e tentar atender melhor essas mulheres que os testaram, mas n&atilde;o deram certo. Essa quest&atilde;o da sustenta&ccedil;&atilde;o dos seios, por exemplo: vend&iacute;amos superbem no online e na exporta&ccedil;&atilde;o, mas n&atilde;o t&iacute;nhamos a informa&ccedil;&atilde;o de que mulheres com bustos maiores, como a pr&oacute;pria Tina, n&atilde;o conseguiam vestir bem nossos tops. Foi preciso abrir a primeira loja f&iacute;sica para termos um contato real com a cliente e percebermos que havia essa demanda a suprir.

L&rsquo;O H&aacute; novamente uma discuss&atilde;o sobre a pouca presen&ccedil;a de mulheres &agrave; frente de marcas de moda. Como l&ecirc; esse cen&aacute;rio?&nbsp;
MF Fazemos muita quest&atilde;o de valorizar todas as mulheres, tanto as que est&atilde;o na nossa equipe quanto da nossa rede de fornecimento e nas colabora&ccedil;&otilde;es e parcerias. Desde as arquitetas para as lojas at&eacute;, digamos, se tiver uma empresa de entrega de moto que &eacute; s&oacute; de mulheres, n&oacute;s vamos preferir contratar. Buscamos apoiar e potencializar mulheres no mercado de trabalho em geral, assim como nos relacionarmos e cocriarmos com criativas que admiramos. Isso &eacute; muito especial para a Haight, estamos seguindo um caminho que acreditamos. Sabemos que no mercado, se voc&ecirc; olhar para ele, as diretorias ainda s&atilde;o primordialmente masculina, branca e heterossexual. As mulheres ainda t&ecirc;m mais dificuldade para chegar aos cargos de lideran&ccedil;a &mdash; mulheres pretas, ent&atilde;o, nem se fala. Uma coisa que valorizamos &eacute; buscar potencializar, do nosso lado, e, a partir disso, encorajar outras marcas a fazer um movimento parecido. Pode parecer que o movimento que a Haight faz &eacute; muito pequeno perto de tudo que acontece no mundo, com certeza &eacute;. Mas &eacute; um movimento individual &mdash; se todo mundo fizesse um pouco, conseguir&iacute;amos mudar mais r&aacute;pido.

Fotos:&nbsp;MATEUS RUBIM.&nbsp;
Produtora Executiva: ANNA GUIRRO.
Assistente de Fotografia: CAIO BACKER.
Tratamento de Imagem: NANDA CARNEVALI.
Beauty Artist: LAIS LARCHER.
Modelo: SUZANA MASSENA (FORD).
Modelo: KAREN TONIETTO, (FORD).

Marcella Franklin, em conversa com L’Officiel fala sobre a Haight

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