Lan&ccedil;adas nos anos 2000, as estrat&eacute;gias dos grandes grupos de luxo para preservar e transmitir seu know-how de excel&ecirc;ncia trazem hoje seus frutos

Lan&ccedil;adas nos anos 2000, as estrat&eacute;gias dos grandes grupos de luxo para preservar e transmitir seu know-how de excel&ecirc;ncia trazem hoje seus frutos, em tempos de relocaliza&ccedil;&atilde;o industrial, de compromissos de Responsabilidade Social Empresarial, de <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/quiet-luxury-o-consumo-caminha-para-ser-mais-consciente">mudan&ccedil;as dos padr&otilde;es de consumo</a> e das aspira&ccedil;&otilde;es da <a href="https://www.revistalofficiel.com.br/moda/a-roupa-ta-on-a-moda-da-nova-geracao-no-mundo-digital">nova gera&ccedil;&atilde;o</a>. V&aacute;rias raz&otilde;es para refor&ccedil;&aacute;-las e torn&aacute;-las um ativo de comunica&ccedil;&atilde;o. Confira entrevistas!

LVMH E SEUS NEG&Oacute;CIOS DE EXCEL&Ecirc;NCIA

Com a cria&ccedil;&atilde;o do Instituto dos Neg&oacute;cios de Excel&ecirc;ncia em 2014, o grupo LVMH impactou. Primeiro programa de estudo e trabalho em luxo, oferecendo forma&ccedil;&otilde;es em neg&oacute;cios de artesanato, de cria&ccedil;&atilde;o e de experi&ecirc;ncia do cliente, ele &eacute; hoje, incontestavelmente, o l&iacute;der na transmiss&atilde;o de know-how excepcional n&atilde;o somente para a nova gera&ccedil;&atilde;o, mas tamb&eacute;m para os adultos em reciclagem. Uma iniciativa interna e externamente ambiciosa, unindo todas as marcas do grupo, fomentando voca&ccedil;&otilde;es, explorando novos territ&oacute;rios tem&aacute;ticos e geogr&aacute;ficos, e adicionando regularmente novas ferramentas (&ldquo;Excelente!&rdquo;, &ldquo;Voc&ecirc; e EU&rdquo;, &ldquo;Mostre-ME&rdquo;, Instituto e Academia dos Neg&oacute;cios de Excel&ecirc;ncia&hellip;). Alexandre Boquel, diretor de excel&ecirc;ncia empresarial do grupo LVMH, faz um balan&ccedil;o.&nbsp;

L&rsquo;OFFICIEL Desde fevereiro de 2020, o senhor &eacute; o diretor de excel&ecirc;ncia empresarial do grupo LVMH. Como resumir sua miss&atilde;o e sua evolu&ccedil;&atilde;o ao longo do tempo?&nbsp;
ALEXANDRE BOQUEL Esses tr&ecirc;s anos passaram t&atilde;o depressa porque foram decisivos. Eu diria que passei de guardi&atilde;o do templo a incubador de talentos em pouco tempo! Da sustentabilidade &agrave; inova&ccedil;&atilde;o, n&oacute;s devemos garantir que os know-hows de amanh&atilde; sejam ao menos t&atilde;o vivos quanto seus antecessores. E &eacute; um verdadeiro desafio. Colocar um know-how em uma redoma &eacute; garantir sua morte. &Eacute; preciso ventil&aacute;-lo para que ele possa respirar. A ess&ecirc;ncia de um patrim&ocirc;nio &eacute; estar em cont&iacute;nuo movimento, como um territ&oacute;rio de expans&atilde;o e de futuro.

L&rsquo;O O senhor disse &ldquo;ningu&eacute;m imagina que tais marcas possam ter dificuldade para contratar e no entanto &eacute; a realidade&rdquo;. Como o senhor explica esse desencanto pelos neg&oacute;cios de excel&ecirc;ncia?&nbsp;
AB O motivo principal &eacute; sist&ecirc;mico. Induzido desde o fim do s&eacute;culo 18 por uma Revolu&ccedil;&atilde;o Industrial que separou pela primeira vez na hist&oacute;ria as no&ccedil;&otilde;es de artes&atilde;o e de engenheiro. Uma divis&atilde;o que se refor&ccedil;ou ao longo de todo o s&eacute;culo 20, promovendo a forma&ccedil;&atilde;o generalista, favorecendo as profiss&otilde;es do abstrato em detrimento das manuais e resultando de fato em uma escassez de talentos e em erros terr&iacute;veis. Mas observamos agora pela primeira vez um decl&iacute;nio nessa tend&ecirc;ncia.

L&rsquo;O O ano de 2021 marcou para a LVMH um impulso no tema, com a assinatura de mais de 75 maisons do grupo no Pacto dos neg&oacute;cios de excel&ecirc;ncia (um ato fundador e unificador em 10 pontos especificando o prop&oacute;sito dos knowhows e os deveres e responsabilidades das maisons). Este pacto &eacute; permanente?&nbsp;
AB Mesmo que ainda seja jovem, este pacto deve evoluir. N&atilde;o se trata aqui tampouco de se congelar demais a f&oacute;rmula. Estamos constantemente pensando em como podemos adapt&aacute;-la a cada &eacute;poca. E o seu anivers&aacute;rio de 10 anos, por que n&atilde;o? &Eacute; uma boa ideia!

L&rsquo;O O fato de o Instituto de Neg&oacute;cios de Excel&ecirc;ncia manter sozinho todo um ecossistema pode torn&aacute;-lo aut&aacute;rquico?
AB Absolutamente n&atilde;o. Pessoalmente, eu n&atilde;o sei fazer nada sozinho! &Eacute; um ecossistema que se nutre constantemente de parcerias externas em sete pa&iacute;ses e que tem como primeira virtude saber federar em sintonia com o funcionamento do grupo LVMH. Se este n&atilde;o fosse o caso, ele se asfixiaria.

L&rsquo;O Criado em 2014, o Instituto de Neg&oacute;cios de Excel&ecirc;ncia vai comemorar no pr&oacute;ximo ano seus 10 anos. Como o senhor encara esse anivers&aacute;rio e que mensagem ele dever&aacute; passar?&nbsp;
AB Temos que enfrentar a modernidade. Estar no concreto. Estabelecer um di&aacute;logo de proximidade atrav&eacute;s das redes sociais, investir em novos territ&oacute;rios internacionalmente, n&atilde;o ter medo de tratar esses neg&oacute;cios de excel&ecirc;ncia de forma menos cautelosa. Em 10 anos passamos de 3 a 280 neg&oacute;cios, em 6 setores de atividade e de 28 aprendizes para 500. O come&ccedil;o j&aacute; parece distante e o ano de 2023 promete ser um recorde. Precisamos transmitir essa energia aos que precisam dela.

PRADA E SUA ACADEMIA

Prada, Miu Miu, Church&rsquo;s, Car Shoe, Pasticceria Marchesi, Luna Rossa. O Grupo Prada &eacute; uma entidade industrial cuja diversidade de marcas &eacute; igualada apenas por sua reputa&ccedil;&atilde;o. Quando chegou o momento de fortalecer sua espinha dorsal, o grupo implementou um importante plano de financiamento para desenvolver sua infraestrutura de produ&ccedil;&otilde;es locais, por meio da Prada Group Academy, seu cavalo de Troia. Massimo Vian, diretor industrial do grupo, justifica essa escolha.

L&rsquo;OFFICIEL Desde 2020 o senhor &eacute; o diretor industrial do grupo Prada. Que estrat&eacute;gia o senhor segue nessa fun&ccedil;&atilde;o em termos de know-how?&nbsp;
MASSIMO VIAN O Grupo Prada tem uma longa tradi&ccedil;&atilde;o em mat&eacute;ria de preserva&ccedil;&atilde;o e de transmiss&atilde;o de seus know-hows, apoiada pela Prada Group Academy. Fundada no in&iacute;cio dos anos 2000, essa escola profissional forma os novos talentos, encarregados de perpetuar o artesanato de excel&ecirc;ncia das nossas marcas e a estrat&eacute;gia atual &eacute; a de acelerar o seu desenvolvimento. Acabamos de inaugurar um novo ramo (dedicado ao know-how de artigos em couro) em nossa unidade de produ&ccedil;&atilde;o de Scandicci, perto de Floren&ccedil;a.

L&rsquo;O O desenvolvimento de capacidades industriais pr&oacute;prias, tais como suas manufaturas artesanais, sempre foi uma prioridade para o grupo?&nbsp;
MV Sim, o grupo Prada sempre investiu nesse sentido sob a lideran&ccedil;a de Patrizio Bertelli desde a d&eacute;cada de 1990, em uma &eacute;poca em que isso estava longe de estar em sintonia com os tempos. Ele &eacute; certamente um dos que abriram o caminho.

L&rsquo;O O senhor declarou que a Prada Academy seria decisiva para a preserva&ccedil;&atilde;o de seu know-how, mas tamb&eacute;m para a do setor. O c&oacute;digo aberto &eacute; importante para o senhor?&nbsp;
MV A ind&uacute;stria do luxo como um todo sofre de uma falta de artes&atilde;os e com uma concorr&ecirc;ncia feroz para contrat&aacute;-los. Cabe &agrave;s empresas e ao poder p&uacute;blico se preocuparem com isso. O treinamento interno de novos talentos valer&aacute; a pena a m&eacute;dio e longo prazo, &eacute; nisso que estamos apostando. N&oacute;s n&atilde;o trabalhamos com c&oacute;digo aberto, mas certamente trazemos novos talentos para o setor. A situa&ccedil;&atilde;o mudou: os artes&atilde;os que formamos hoje n&atilde;o s&atilde;o mais necessariamente filhos de artes&atilde;os, como antigamente. Muitas vezes para eles esta &eacute; uma carreira como qualquer outra e &eacute; importante estabelecer uma conversa com eles para despertar interesse e paix&atilde;o. Nosso setor precisa permanecer atrativo, ou perder&aacute; seus ativos acumulados por d&eacute;cadas, aqueles que fizeram a reputa&ccedil;&atilde;o mundial de excel&ecirc;ncia do nosso pa&iacute;s.

L&rsquo;O A diversifica&ccedil;&atilde;o das categorias, dos produtos e das marcas do grupo pode ser um obst&aacute;culo &agrave; preserva&ccedil;&atilde;o de seu patrim&ocirc;nio artesanal?&nbsp;
MV Acredito que n&atilde;o. Pelo contr&aacute;rio, expandir o escopo de possibilidades permite n&atilde;o somente experimentar mais conhecimentos t&eacute;cnicos, mas tamb&eacute;m inovar. A cadeia produtiva sem d&uacute;vida est&aacute; se tornando mais complexa, mas o Grupo Prada est&aacute; bem preparado para isso.

CHANEL E SUAS PROFISS&Otilde;ES ART&Iacute;STICAS

As profiss&otilde;es art&iacute;sticas j&aacute; existiam na &eacute;poca de Coco Chanel, que prestava especial aten&ccedil;&atilde;o &agrave; excel&ecirc;ncia de suas cria&ccedil;&otilde;es. Se a Maison Chanel sempre teve o cuidado de perpetuar a tradi&ccedil;&atilde;o, foi preciso esperar por 1985 para que essa cultura da empresa se transformasse em um projeto virtuoso. O grupo franc&ecirc;s comprou um por um os ateli&ecirc;s fragilizados pela &eacute;poca a fim de garantir sua sustentabilidade, respeitando, ao mesmo tempo, a independ&ecirc;ncia de seu modelo econ&ocirc;mico. Uma singular estrat&eacute;gia de confian&ccedil;a m&uacute;tua que n&atilde;o existe em nenhum outro lugar do mundo. E uma rede autossuficiente de subcontratados que suporta hoje uma d&uacute;zia de profiss&otilde;es de know-how e v&aacute;rias centenas de artes&atilde;os na Europa. Para esclarecer e transmitir esse legado, nasceram duas iniciativas not&aacute;veis: a cole&ccedil;&atilde;o das Profiss&otilde;es art&iacute;sticas da Chanel que, desde 2002 homenageia todos os anos cria&ccedil;&otilde;es de excel&ecirc;ncia, como durante o &uacute;ltimo desfile em Dakar, no Senegal; e o 19M, inaugurado em 2022 em Porte d&rsquo;Aubervilliers, um espa&ccedil;o de 25.500 m2 inteiramente dedicado &agrave;s profiss&otilde;es art&iacute;sticas, a um tempo profissional, educativo e cultural, e em parte aberto ao p&uacute;blico.

KERING E SUA MENTORIA

Acima de tudo reconhecida por suas prestigiadas parcerias acad&ecirc;micas que assina regularmente h&aacute; mais de dez anos com grandes escolas e universidades, inclusive internacionalmente por meio de programas de gest&atilde;o (HEC Paris, Bocconi Milan, London College of Fashion, Institut Fran&ccedil;ais de la Mode, Tsinghua P&eacute;kin&hellip;), o grupo Kering desenvolve paralelamente um importante networking em termos de forma&ccedil;&atilde;o em artesanato e know-how de excel&ecirc;ncia por meio de escolas vocacionais, mas desta vez atrav&eacute;s das diferentes marcas do grupo. Uma dezena desses programas (beneficiando 1.300 pessoas) funcionam atualmente a todo vapor. Recordemos: a &Eacute;cole de l&rsquo; Amour Gucci (2018) dentro de seu Artlab perto de Floren&ccedil;a, um espa&ccedil;o dedicado ao artesanato e &agrave; inova&ccedil;&atilde;o para artigos de couro e sapatos da marca, onde s&atilde;o oferecidas v&aacute;rias forma&ccedil;&otilde;es para os estudantes. Um programa expandido para o pr&ecirc;t-&agrave;-porter (2022) com o estabelecimento de uma colabora&ccedil;&atilde;o com o Istituto Secoli, para uma forma&ccedil;&atilde;o em prototipagem &ldquo;made in Italy&rdquo;. A Scuola dei Maestri Pellettieri de Bottega Veneta (2006), aberta tanto para os trabalhadores da marca quanto para os aprendizes, que forma, no cora&ccedil;&atilde;o do ateli&ecirc; de Montebello Vicentino, as novas gera&ccedil;&otilde;es de artes&atilde;os que trabalham com couro, garantindo a transmiss&atilde;o do know-how da Maison. A Promotion Boucheron 2022-2025 da Haute &Eacute;cole de joalheria, com a qual o joalheiro est&aacute; em parceria para abrir seus ateli&ecirc;s de alta joalheria ao aprendizado. E por fim, os programas de forma&ccedil;&atilde;o financiados por Pomellato (2017 e 2023) em tr&ecirc;s institui&ccedil;&otilde;es de ourivesaria, a Galdus Goldsmith Academy, o Galdus Institute e a Goldsmith School of Gallarate.

HERM&Egrave;S E SUA CAIXA DE FERRAMENTAS

Desde 1837, toda a singularidade da Herm&egrave;s, maison familiar e independente &ldquo;de objetos feitos para durar&rdquo;, apoia-se em seu compromisso com a preserva&ccedil;&atilde;o e na transmiss&atilde;o de seu know-how de excel&ecirc;ncia, principalmente na Fran&ccedil;a: em apenas 15 anos, o grupo abriu 54 locais de produ&ccedil;&atilde;o, dos quais 9 s&atilde;o abertos &agrave; forma&ccedil;&atilde;o em artigos de couro e 4 novos projetos est&atilde;o em andamento. Para sustentar as iniciativas que os alimentam, v&aacute;rias ferramentas surgiram: a Funda&ccedil;&atilde;o Empresarial Herm&egrave;s em 2008, a Escola Herm&egrave;s de know-how em 2021, a Academia do know-how em 2014, e v&aacute;rios programas educativos, entre eles Manufacto, em 2016. Sobre a primeira: &ldquo;A Funda&ccedil;&atilde;o Empresarial Herm&egrave;s &eacute; mais uma operadora que uma distribuidora: desenvolvemos programas e os apoiamos a longo prazo. Se queremos ser &lsquo;transformadores&rsquo;, temos que fazer parte do longo prazo&rdquo;, declara Olivier Fournier, diretor-geral, respons&aacute;vel pela governan&ccedil;a e desenvolvimento das organiza&ccedil;&otilde;es. Na Escola Herm&egrave;s de know-how, mais de 150 artes&atilde;os s&atilde;o tamb&eacute;m formadores e avaliadores e acompanham 700 aprendizes durante 18 meses de forma&ccedil;&atilde;o, como parte de programas aprovados pela Educa&ccedil;&atilde;o nacional, um modelo &uacute;nico em seu g&ecirc;nero. No final, todos os polos de manufatura do grupo ter&atilde;o sua pr&oacute;pria escola. J&aacute; a Academia de know-hows, programa da Funda&ccedil;&atilde;o, re&uacute;ne profissionais a cada dois anos (artes&atilde;os, designers e engenheiros) como parte de um programa de trabalho de 11 meses para pesquisa prospectiva, explora&ccedil;&atilde;o e inova&ccedil;&atilde;o referente a um material. A 6a edi&ccedil;&atilde;o &eacute; atualmente dedicada &agrave; pedra, sob a dire&ccedil;&atilde;o pedag&oacute;gica da arquiteta Lina Ghotmeh. Quanto ao programa Manufacto, &ldquo;a f&aacute;brica do know-how&rdquo; cuja a&ccedil;&atilde;o deste ano abrange 1.975 alunos em n&iacute;vel nacional, tem como proposta sensibilizar a gera&ccedil;&atilde;o jovem quanto aos trabalhos manuais, fazendo com que cada um deles produza um objeto durante os ateli&ecirc;s de pr&aacute;ticas t&eacute;cnicas, supervisionados por especialistas.

&copy; FOTO SOPHIE CARRE/ CORTESIA PRADA, KERING, LVHM, CHANEL, MAXIME VERRET/CORTESIA HERM&Egrave;S, LVMH.

Savoir-Faire em essência: estratégias dos grandes grupos de luxo

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